CRUEL


 
                    Estou triste e esvaziada. É porque o meu filho está se afastando ou se retirando da minha vida, coisa que ele vem tentando desde quando morávamos na Real Grandeza, e eu sempre sofri por isso. Foi quando tive que ir para o sítio entre móveis e bagagens.
 
            É cruel.
 
            É cruel ser mãe.
 
            Meu coração está pesadooo...
 
            Chorei o dia todo, reconhecendo o que venho percebendo e não acreditando.
 
             É diferente de ser rejeitada por um filho como a Valéria, que, em conluio do Raul, declarou direto em palavras ditas e ordens para mim. Ali sofri menos. Não me permiti sofrer nem sentir. Se o senti, nem percebi. Achei que continuei inteira e forte, e continuei a viver.
 
            Mas perceber agora o meu filho ir se debatendo e tomando posições de distanciamento, como se nada fosse demais, machuca mais do que eu possa aceitar e com tal conviver “numa boa”.
 
            É mau, coisa muito má de sentir e viver. Hoje eu não vivi, pois desceu a lucidez de mãe. O dia foi difícil.
 
            Mas eu gosto de ter a união familiar. O bom encontro, a festa da celebração da vida e do amor. Ir ao cinema junto com os filhos. Trocar carinho e confiança plena. Papo. Saber as novidades. Ver seus sorrisos. Acompanhar o brilho do olhar.
 
            Rezar todas as noites e velar por eles. Ter confiança e alegria com as alegrias dos filhos.
 
            É muito triste não participar das alegrias dos filhos. Eles vão se fechando, limitando e selecionado as falas. Criando cercas e portões.
 
            Eles não sentem falta da gente.
 
            Amam a mãe, mas ela quase não tem participação mais em suas vidas.
 
            Ser mãe é doloroso.
 
            Mãe é por toda a vida.