ESCADA ROLANTE

“Te mando todos os recados que quiser

Te mando beijos, cartas

E te faço cafuné”

Henrique Diógenis

Lembro-me como se fosse hoje. Estava numa festa, já meio bêbado, quando vi uma linda menina sorrir, não pra mim nem de mim, mas o fato é que o sorriso era encantador. Dizem que o riso vem da face. Eu costumo dizer que um riso tem muitas e muitas faces, as faces que espelham a natureza... essa menina não saiu mais da minha cabeça e minha cabeça não saiu mais do anormal, minha cabeça saiu do eixo...

Tornei a vê-la, e dessa vez ela estava numa esquina... e dessa vez ela estava chorando, não sei porque nem por quem. O choro não era tão triste, mas lágrimas... lágrimas já oculta a beleza dos olhos, até na alegria as lágrimas são desnecessárias. Tive vontade de recitar o velho e bom Vini de Moraes pra ela:

“Quando chegares e eu te vir chorando

De tanto te esperar

Que te direi?

E da angústia de amar-te te esperando

Reencontrada, como te amarei?

Que beijo teu de lágrimas terei

Para esquecer o que vivi lembrando

E que farei da antiga mágoa quando

Não puder te dizer por que chorei?

Como ocultar a sombra em mim suspensa

Pelo martírio da memória imensa

Que a distância criou – fria de vida

Imagem tua que eu compus serena

Atenta ao meu apelo e à minha pena

E que quisera nunca mais perdida...”

Essa lembrança, do seu riso e do seu choro, me faz pensar na beleza dos corpos e na tristeza da falsidade... uma face, por mais feia que seja, ao sorrir, beija o céu. Já um rosto, com a face do choro, olhos derramando lágrimas sem motivo algum, por mais belo que seja, não passa de nuvem negra beijando a escuridão de uma tempestade...

Dito tudo isto... saio agora rumo à escada rolante, abrirei um chocolate, jogarei a embalagem no piso lustroso do shopping, vou fumar um cigarro vagabundo e assim enfrentar a fila do cinema no qual passará o filme mais esperado do ano: A MENINA DO SORRISO BONITO.