O sucesso e a maldição da Ressacada
O SUCESSO E A MALDIÇÃO DA RESSACADA
Aconteceu de novo na última rodada do Brasileirão: o Avaí precisava de quatro resultados para subir da nona para a sexta posição no campeonato. Em caso de derrota azurra, dos onze times que estavam atrás do Leão nenhum conseguiria mais ultrapassá-lo, sequer alcançá-lo, tal a distância que já havia posto sobre os demais. Pois no sábado o Eltinho nos fez 1 a 0 no Náutico, lá mesmo em Recife, e o Atlético Mineiro perdeu em casa por 3 a 0 para o Corinthians, que ocupava a décima posição e por ali mesmo ficou; no domingo, o Goiás usou nosso placar predileto - 2 a 2 - com o Vitória, em Salvador, enquanto no Maracanã o time misto do Grêmio não conseguiu se impor ao Flamengo, caindo por 2 a 1. Com isso, os cariocas sagraram-se campeões brasileiros de 2009 e, mais importante, o Avaí consagra-se como uma das seis melhores equipes de futebol do país do futebol. Nenhum clube catarinense alcançou jamais tamanho realce. Nem catarinense nem de muitos estados brasileiros.
O Avaí fez assim por diversas vezes: somou pontos preciosos sem entrar em campo; não foi raro ganhar três ou quatro partidas numa mesma rodada. A isso se dá o nome de competência, não de sorte. Uma competência que nasce do planejamento realista e da estrutura interna do clube. Méritos do presidente Zunino, sem qualquer dúvida. Silas, com todo o seu trabalho sério e profissional durante 19 ou 20 meses, foi apenas uma consequência desse quadro: mesmo com a equipe amargando a última posição na tabela (embora jogando um futebol primoroso), o técnico foi mantido em nome de um projeto com objetivos e etapas muito claros.
Reconhecido como um time simpático, com muitos gols a favor e poucos cartões contra, a recuperação do Avaí foi marcante, tornando-o o fenômeno futebolístico cantado em prosa e verso. A receita da volta por cima, aliás, foi passada aqui na Ressacada para o próprio Flamengo, que depois de tomar 3 a 0 com Adriano e tudo (que não jogou nada naquele dia) foi crescendo até chegar ao título. Que, com um ou outro resultado um pouco melhor aqui e ali, poderia ter sido nosso, como não?
E a maldição? A maldição da Ressacada é que nossos grandes jogadores brilham com a camisa azul e branca. Defendendo outras cores, pouco lhes acontece de bom, até retornarem ao clube para novamente atingirem destaque nacional (isto também vale para técnicos). O que significa que o Avaí dispõe de um "estoque" de craques espalhados por aí sem lhe custar nada.
(Amilcar Neves é avaiano, escritor e autor, entre outros, do livro "Dança de Fantasmas (contos de amor)", contos)