AS MALAS E O BAÚ
Agora em dezembro último, eu estive, juntamente com um grupo de professores, na capital do meu Estado. O local da formação foi paradisíaco – pelo menos para quem, assim como eu, não está acostumado com mordomias –, mas que, de certa forma, valorizou o evento que, por si só – e pelo tempo de uma semana –, já justificava estar sendo promovido na Via Costeira.
Acontece que, entre os professores participantes desta formação, estava uma colega que, podemos dizer, ainda vive com a cabeça voltada para o imaginário das coisas, as poesias cantantes de Fernando Pessoa ou os divagares poéticos de Drummond de Andrade.
Para ela, tudo se resume à simplicidade das pessoas, e ninguém, por mais que pareça ser, é de fato. Ou seja: todas as pessoas são boas, não existe malícia, o mundo é belo e, por mais que aconteçam coisas ruins, ela sempre tem uma justificativa para tais momentos.
Pois bem. Formação cronometrada, treinamentos exaustivos, oficinas, debates, reuniões, poucos momentos de lazer, e ela, a nossa jovial e sorridente porta-voz da naturalidade sempre nos animando. Normalmente, quando o cansaço batia e o final do dia se fazia presente, e todos nós estávamos para entregar os pontos, ela sempre tinha uma palavra, um “olha que lindo está o mar”, ou “acredito que a lua, hoje, ao nascer, será linda e maravilhosa”; enfim, em nenhum momento se deixou ficar no mesmo patamar que nós teimávamos em permanecer.
E, com isso, os dias foram se sucedendo, até a chegada da partida. Quatro horas da tarde era o limite da desocupação dos apartamentos. Por volta das quatorze horas, quase todos nós já havíamos deixado nossos quartos e colocado a bagagem nos respectivos transportes. A nossa grande incentivadora, otimista por natureza, ao ser indagada, se já havia feito a desocupação do apartamento, sempre dizia que “ainda tinha tempo de sobra” e continuava com sua espantosa capacidade de ver o mundo cor-de-rosa.
Assim, como se fosse uma brisa que percorria os corredores extensos do hotel, ela se dirigiu, já no limite das dezesseis horas, para retirar suas malas do apartamento. Eram duas. Uma continha a bagagem que ela havia levado; a outra, continha roupas e acessórios que foram presenteados pela sua filha que mora na capital. Acho que, se não me engano, até uma filmadora tinha no meio.
Ela, com a sua calma peculiar, tirou toda a bagagem, no exato momento que, chegando às dezesseis horas, todos os apartamentos – designados aos professores – foram travados, sendo necessário, se alguém fosse entrar, dirigir-se à recepção para poder liberar o cartão de acesso.
De posse de suas malas, ela avistou, no corredor de sua ala, um baú. Ela não querendo andar com aquele peso por todo o hotel – pois ainda tinha que assistir às últimas orientações de sua instrutora – foi até o final do corredor, olhou para um lado, olhou para o outro, voltou, olhou por uma varanda e, como não viu ninguém, abriu o baú e colocou suas malas lá dentro. E assim, como não querendo nada, dirigiu-se para o salão de reuniões.
Bem, o que ela não observou foi que o hotel dispunha de câmeras instaladas nos corredores e que, o operador da sala de segurança, ao ver aquela “presepada” acionou, primeiro, o chefe da segurança, o qual acionou o mordomo – que saiu atrás daquela hóspede e, não a encontrando de imediato, acionou a polícia civil e logo estava formado o “circo”.
De volta da última reunião, já de partida, a nossa Alice no País das Maravilhas foi, sorrateiramente, apanhar suas malas dentro do baú. Quando chegou lá, olhou para um lado e, como não viu ninguém, abriu o baú. Qual não foi a sua surpresa, quando olhou para dentro, e não viu suas malas. Neste momento apareceu – como do nada – o mordomo. Ela queixou-se que tinha deixado sua bagagem ali dentro e quando tinha voltado para pegá-la, ela não se encontrava mais lá.
Depois de desfeito o mal-entendido, da polícia, discretamente, não ter dado sinais de sua presença, as malas – que já estavam na recepção e, logicamente, revistadas – foram entregues a nossa inocente pedagoga.
Na volta para casa, enquanto nós ríamos da situação, tirando o “couro” dela, dizendo que o caso poderia ter se transformado num caso internacional devido ao ato suspeito – contrabando de joias, objetos, drogas, etc. – ela, sem perder a fleuma britânica, saiu-se com essa:
“Gente, eu quando era criança sempre tive vontade de esconder alguma coisa dentro de um baú de pirata. Quando vi aquele lá, não tive dúvida e fiz como nos filmes: escondi tudo lá dentro e saí contando quantos passos davam até o hall de entrada, para marcar o mapa do tesouro. Realizei meu sonho de criança e curti muito a fantasia. Foi o máximo!”
Depois dessa resposta, o jeito foi tentar não se acabar de rir até chegar a Mossoró.
Obs. Imagem da internetAgora em dezembro último, eu estive, juntamente com um grupo de professores, na capital do meu Estado. O local da formação foi paradisíaco – pelo menos para quem, assim como eu, não está acostumado com mordomias –, mas que, de certa forma, valorizou o evento que, por si só – e pelo tempo de uma semana –, já justificava estar sendo promovido na Via Costeira.
Acontece que, entre os professores participantes desta formação, estava uma colega que, podemos dizer, ainda vive com a cabeça voltada para o imaginário das coisas, as poesias cantantes de Fernando Pessoa ou os divagares poéticos de Drummond de Andrade.
Para ela, tudo se resume à simplicidade das pessoas, e ninguém, por mais que pareça ser, é de fato. Ou seja: todas as pessoas são boas, não existe malícia, o mundo é belo e, por mais que aconteçam coisas ruins, ela sempre tem uma justificativa para tais momentos.
Pois bem. Formação cronometrada, treinamentos exaustivos, oficinas, debates, reuniões, poucos momentos de lazer, e ela, a nossa jovial e sorridente porta-voz da naturalidade sempre nos animando. Normalmente, quando o cansaço batia e o final do dia se fazia presente, e todos nós estávamos para entregar os pontos, ela sempre tinha uma palavra, um “olha que lindo está o mar”, ou “acredito que a lua, hoje, ao nascer, será linda e maravilhosa”; enfim, em nenhum momento se deixou ficar no mesmo patamar que nós teimávamos em permanecer.
E, com isso, os dias foram se sucedendo, até a chegada da partida. Quatro horas da tarde era o limite da desocupação dos apartamentos. Por volta das quatorze horas, quase todos nós já havíamos deixado nossos quartos e colocado a bagagem nos respectivos transportes. A nossa grande incentivadora, otimista por natureza, ao ser indagada, se já havia feito a desocupação do apartamento, sempre dizia que “ainda tinha tempo de sobra” e continuava com sua espantosa capacidade de ver o mundo cor-de-rosa.
Assim, como se fosse uma brisa que percorria os corredores extensos do hotel, ela se dirigiu, já no limite das dezesseis horas, para retirar suas malas do apartamento. Eram duas. Uma continha a bagagem que ela havia levado; a outra, continha roupas e acessórios que foram presenteados pela sua filha que mora na capital. Acho que, se não me engano, até uma filmadora tinha no meio.
Ela, com a sua calma peculiar, tirou toda a bagagem, no exato momento que, chegando às dezesseis horas, todos os apartamentos – designados aos professores – foram travados, sendo necessário, se alguém fosse entrar, dirigir-se à recepção para poder liberar o cartão de acesso.
De posse de suas malas, ela avistou, no corredor de sua ala, um baú. Ela não querendo andar com aquele peso por todo o hotel – pois ainda tinha que assistir às últimas orientações de sua instrutora – foi até o final do corredor, olhou para um lado, olhou para o outro, voltou, olhou por uma varanda e, como não viu ninguém, abriu o baú e colocou suas malas lá dentro. E assim, como não querendo nada, dirigiu-se para o salão de reuniões.
Bem, o que ela não observou foi que o hotel dispunha de câmeras instaladas nos corredores e que, o operador da sala de segurança, ao ver aquela “presepada” acionou, primeiro, o chefe da segurança, o qual acionou o mordomo – que saiu atrás daquela hóspede e, não a encontrando de imediato, acionou a polícia civil e logo estava formado o “circo”.
De volta da última reunião, já de partida, a nossa Alice no País das Maravilhas foi, sorrateiramente, apanhar suas malas dentro do baú. Quando chegou lá, olhou para um lado e, como não viu ninguém, abriu o baú. Qual não foi a sua surpresa, quando olhou para dentro, e não viu suas malas. Neste momento apareceu – como do nada – o mordomo. Ela queixou-se que tinha deixado sua bagagem ali dentro e quando tinha voltado para pegá-la, ela não se encontrava mais lá.
Depois de desfeito o mal-entendido, da polícia, discretamente, não ter dado sinais de sua presença, as malas – que já estavam na recepção e, logicamente, revistadas – foram entregues a nossa inocente pedagoga.
Na volta para casa, enquanto nós ríamos da situação, tirando o “couro” dela, dizendo que o caso poderia ter se transformado num caso internacional devido ao ato suspeito – contrabando de joias, objetos, drogas, etc. – ela, sem perder a fleuma britânica, saiu-se com essa:
“Gente, eu quando era criança sempre tive vontade de esconder alguma coisa dentro de um baú de pirata. Quando vi aquele lá, não tive dúvida e fiz como nos filmes: escondi tudo lá dentro e saí contando quantos passos davam até o hall de entrada, para marcar o mapa do tesouro. Realizei meu sonho de criança e curti muito a fantasia. Foi o máximo!”
Depois dessa resposta, o jeito foi tentar não se acabar de rir até chegar a Mossoró.