IPATINGA, USIMINAS

De repente, o Dr. Clovis, engenheiro da obra, apareceu no escritório e foi logo dizendo:-

“- Daniel, levo o Roberto amanhã comigo. O serviço lá apertou e o Adilson precisa dele. Coisa de uns quatro dias, mais ou menos, e ele estará de volta, ok?”

Vibrei com a nova, pois sempre desejara conhecer de perto aquela obra gigantesca, que concentrava no momento a maior quantidade de máquinas da empresa:- USIMINAS ...

A Franki executava as fundações da siderúrgica – mais de seis mil metros de estacas, aproximadamente. Havia montado um escritoriozinho lá e o volume de serviço crescera bastante. Adilson, colega encarregado do setor de Belo Horizonte, havia rumado para o local com o objetivo de organizar um escritório de acordo com as exigências do serviço, pois que a parte técnica não podia, era evidente, andar adiante da administrativa, ou sem esta. Necessário estabelecer um paralelo, um entrosamento perfeito entre as duas, uma ligação direta entre tais setores, ambos importantes numa firma:- o técnico e o administrativo. Assim, ele foi.

Eu ficara de sobreaviso, na expectativa de seguir também. Sabia que ele não suportaria, de chofre, o montante dos trabalhos burocráticos a fazer. E havia o atraso, urgia normalizar a situação. Conhecia, e bem, a espantosa capacidade e eficiência do meu colega e particular amigo. Não duvidava e tampouco subestimava seus méritos. Mas a tarefa era bastante árdua e ele, de inicio, não contaria com auxiliares. Ficara, pois, aguardando. E minha vez chegou mais depressa do que eu pensava.

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O teco-teco, um velho “Cessna-180”, decolou. Coisa boa pra quem nunca voara até então. Logo estávamos no alto e a impressão era a de que planávamos. O piloto, Dr. Clovis e eu, apertado no banco de trás. Muito pequeno, o avião. Mas o aparelho sorvia a distância. Casas, pastos, vegetação mais opulenta, árvores, coqueiros, gado no cerrado, fazendolas de criação, elevações, montanhas azuladas ao longe, pedreiras, vales, grotões, picos, a geografia da região, que eu pela primeira vez observava do alto, modificando-se sempre, rica de acidentes. Belo Horizonte já ficara para trás.

Um rio largo, de águas barrentas, deslizava sereno, paralelo à linha férrea. Via-se também a estrada de rodagem, perto, cheia de contornos.. Fazia sol. A sombra do teco-teco, qual abutre descomunal, corria pelo dorso dos montes, pelas copas das árvores, cortando às vezes o rio vermelho. Uns quarenta minutos assim, eu curtindo a viagem, e logo Acesita, o campo de pouso. A aterrissagem foi mais simples do que eu pensava. Excelente brinquedo o teco-teco, pensei. Brincadeira sem graça me aguardava a seguir.

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O jipe, aos solavancos, arrancou para as obras, distantes uns vinte quilômetros dali. Estrada péssima. Crateras e não buracos no caminho, mares de lama em certos trechos. Verdadeiras lagoas noutros. Chovera a bom valer por aquelas bandas nos últimos dias, via-se bem. E sai dum buraco, cai noutro, chegamos afinal ao canteiro de serviço.

Monstruosidade é o termo adequado para exprimir toda a pujança daquele arrojado empreendimento. Várias firmas trabalhavam de empreitada, como a Franki, na construção da usina, estimada em uma das maiores do país e da América Latina.

Máquinas de diversos tipos e tamanhos dinamizavam o ritmo dos trabalhos. Operários mil labutavam por ali. Fiquei apavorado, para maior força de expressão. Vi aquilo e gostei, pois aprecio movimento. Nada de moleza, de rotina abominável. Aventura, lufa-lufa, trabalho muito e variegado, eis o meu prato favorito. E passada a emoção da chegada, entreguei-me de corpo e alma ao serviço, à papelada que me aguardava junto com o amigo Adilson.

Uma semana inteirinha de batente duro, desde a manhã à noitinha. No escritório e nas obras. Podia-se sentir o estalido dos ossos. No fim desta, o retorno.

Agora, a saudade. Sim, a saudade. Do teco-teco, do jipe e seus pulos, da chuva e da lama, do afogadilho, de Usiminas ...

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Em Belo Horizonte, a rotina diária do escritório da Franki, agora chefiado pelo Brivaldo, um baiano esperto que viera pro lugar do Adilson, enquanto este dava seu tempo em Usiminas.

Brivaldo não queria muita coisa com o batente, e como eu dominava tudo no escritório, ele deixava o barco comigo. Saia muito, preocupado em conhecer a cidade, em fazer amizades, conhecimento, infiltrar-se na roda de pessoas influentes da capital mineira. Chegou até a freqüentar a Sociedade Mineira de Engenheiros. Brincava comigo, dizendo:-

“- Logo meu nome estará nas colunas sociais, você verá:- Dr. Brivaldo, etc., etc.” ... Era um cara dura, essa é que a verdade.

Foi então que o Adilson adoeceu em Usiminas e resolveram enviar o Brivaldo, trazendo o primeiro de volta a Belo Horizonte. O baiano foi, meio contrariado, pois já montara seu esquema nas Alterosas, mulherengo como ele só. Estava se intrujando, aos poucos, nos clubes granfinos da cidade, conhecendo gente, tudo conforme planejara. A transferência para Usiminas viera alterar seus projetos sonhadores.

Chegando lá, vislumbrou a possibilidade de ganhar dinheiro. O lugar estava nascendo ...

Afinal, o trabalho da Franki ele dominava, tinha um bom Chefe de Máquinas, o Ribeiro, carioca novo, recém casado, ambicioso também. Em pouco tempo, ele desenvolvia varias atividades paralelas, se descuidando totalmente dos interesses da Franki, até que resolveram demiti-lo. Era o que ele desejava, pois ficou livre para cuidar dos seus negócios, os quais se diversificavam. Comprara até um bar em Ipatinga.

Foi aí que decidiram me mandar. Chegara minha vez de chefiar o escritório local da companhia.

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Corria o ano de 1962, eu tinha vinte e três anos apenas, mas era muito responsável e exercia meu primeiro cargo de chefia. Comandava o escritório da Franki, uma empresa belga, conceituada internacionalmente. No imenso canteiro de obras, a presença das máquinas bate-estacas, suas equipes de operários, o pessoal formigando, trabalhando naquilo que seria a construção de uma grande siderúrgica nacional.

Havia a Fazendinha, próxima aos morros, onde moravam os engenheiros das empreiteiras, como o Dr. Clovis, da Franki, um barriga verde que era meu fã, tanto que depois me levou pra São Paulo, apreciador do meu desempenho profissional e do meu estilo de trabalho. Fora ele que me entrevistara e me admitira na Franki, três anos atrás. O Horto, com imensos conjuntos de alojamentos, onde moravam em apartamentos de quatro, cinco camas os rapazes da burocracia, administrativos, técnicos de nível médio. E a famosa Candangolândia, onde se ajuntavam as casinhas dos operários, a turma do pesado. Mulheres, só em Coronel Fabriciano, a uns trinta quilômetros dali, a sede do município. No canteiro de obras, só caminhões, tratores, bate-estacas, escavadeiras e muito macho, de todo canto deste imenso Brasil:- mineiros, baianos, pernambucanos, goianos, uma autêntica salada verde-amarela. De quebra, os japoneses, muitos, que não falavam pinóia nenhuma de português. Moravam na Vila do Cari, em casas confortáveis, com ar condicionado, toda mordomia que era negada a nós outros, filhos da terra. O brasileiro e sua eterna mania de puxar o saco dos gringos, supervalorizando o estrangeiro, em detrimento dos seus patrícios.

Cedinho, o caminhão Ford azul, um F-600, me pegava no Horto. Severino, pernambucano, na direção, o Ribeiro, Chefe da Máquina, na boleia, a peãozada na carroceria, gente boa, disposta ao trabalho. Oswaldo Soldador, Luiz Maquinista, Mané, Ademar, Comprido, Tião, Odoce, a cambada toda ali, unida, pronta para mais um dia de labuta estafante.

Eu subia para a boleia e mandava tocar pro canteiro de obras. Logo chegávamos, o Gaúcho, o cozinheiro, fazia um café magro pra enganar o bucho até a hora do almoço, preparado por ele mesmo, numa barraca especial, armada nas proximidades sob amplo toldo de lona. O pessoal se cotizava, comprava os mantimentos para consumo da semana e o Gaúcho entrava com sua perícia no preparo da gororoba. Não era grande coisa, mas ninguém morria de fome. E à noite, cada qual no seu canto, descontava no jantar.

Eu comia numa pensão à beira da estrada, junto com o Toninho e o Eudes, meus companheiros de quarto, funcionários da Usiminas. Tomávamos uma cerveja e enfrentávamos a montanha de comida que já vinha no prato feito (o famoso PF):- arroz, feijão, macarrão, farofa de ovo, carne e umas folhas de alface, junto às rodelas de tomate e cebola. Uma delicia, após um dia de batente brabo na obra.

O cafezinho, um palito nos dentes, meia hora de bate papo, conversa fiada jogada fora ali mesmo, em torno da mesa, observando os tipos curiosos em volta e, depois, rumávamos pro alojamento. Na vila não havia distração de espécie alguma, nem cinema, nem rádio, nadinha. Afora os botecos, que proliferavam, uma farmácia, o prédio dos Correios, a Igreja no centro da praça, um armazém, a Agência do Banco Nacional, onde trabalhava o Maru, um primo da minha noiva Maria Mari, que em Belo Horizonte preparava o seu enxoval, e finalmente uma casa que servia como Delegacia Policial.

Aos sábados, à noite, juntava-me à turma do Banco, com o Maru no comando, levando junto comigo o Augusto “Apontador” da Franki. Arranjávamos um transporte, geralmente um jipe fudido, do Geraldinho, subalterno do Maru no Banco, e partíamos com destino a Coronel Fabriciano, prontos para uma baita farra na zona do lugar. Então, quando era fim de mês, dinheiro no bolso, a brincadeira era animadíssima.

A zona de Fabriciano ficava próxima ao cemitério, bem ao lado da linha do trem. Uns barracos de madeira, todos juntos, sem alinhamento, uns becos estreitos servindo de passagem, ruelas mal iluminadas, a gente passando e ouvindo a gemença dos candangos nos quartos das putas, descarregando o óleo e botando o cacete em dia.

Havia umas mulheres, vindas recentemente de Belo Horizonte, umas putonas de primeira, experientes, que ganhavam uma nota firme e faziam sucesso. Muitas menininhas novas também, vindas do interior do estado, das bandas de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, que vinham faturar em cima daqueles homens cheios de grana suada, fruto duma trabalheira medonha, mãos calejadas, com não sei quantas horas extras por mês. Chegavam tímidas, sem preparo, mal vestidas, e logo estavam mestras no ofício, bem arrumadas e bem pintadas, cigarrinho na ponta dos dedos, bebericando junto aos clientes antes de irem pra cama. Volta e meia surgia uma confusão, homens e mulheres se engalfinhavam, não se sabendo exatamente atinar o porquê. Era tapa e bofete pra todo o lado, garrafas voando, cadeiras quebrando cabeças, mas a turma do deixa-disso logo entrava em ação e as coisas se acalmavam.

Numa noite de sábado, final de mês, dinheiro no bolso e muitos planos na cabeça, chegamos à zona de Fabriciano. O Maru já havia bebido no Horto, no seu próprio quarto, onde sempre tinha uma garrafa de aguardente ao lado da cama. Ele chegara já meio chumbado. Nos acomodamos à mesa, era uma boate nova por ali, meninas diferentes. À nossa direita, duas mesas juntas com uma tropa de japoneses, com suas legítimas esposas, pasmem! Os nipônicos riam muito, bebendo, alegres, naquela algazarra, falando em sua língua atrapalhada. Foi aí que o Maru se levantou, sério, dirigiu-se à mesa e convidou uma japonesa para dançar. Não é que ela topou? Levantou-se, riu muito, matraqueou em seu idioma qualquer coisa pros companheiros da mesa, eles riram muito também, enlaçou o Maru e saíram rodopiando pelo salãozinho. Ficamos pasmos, observando, atentos e preocupados. Os nipônicos à mesa riam e bebiam, matraqueando e sorrindo amarelo. Aí o Maru perdeu a esportiva, deu uma fungada violenta no cangote da japonesa. A moça chiou, empurrou-o com força, ele tropeçou numa cadeira, caiu por cima da mesa e dos outros ... e o pau quebrou! Garrafas voaram, mesas e cadeiras, gente se embolando, aos tapas, o diabo! Alguém puxou o Maru pelo colarinho, arrastou-o até a rua, saímos às pressas da boate, deixando o povo no frege, e quando a polícia chegou nosso jipe já roncava na estrada de volta a Usiminas, com o Maru desmaiado no banco de trás e a gente gargalhando a mais não poder!...

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Eu era muito moço e alguns estranhavam que exercesse um cargo importante de chefia, em meio a tanto macho barbado e calejado na vida. Mas meu espírito de liderança era forte e, além do mais, eu sou de Leão, signo próprio de quem nasceu para comandar. E gostava do meu trabalho, de coordenar, de orientar, de organizar, de decidir. Rapidamente fui me afirmando junto aos homens, apesar das crises de ciúme do Ribeiro, o Chefe de Máquinas, moço também, alguns anos mais velho que eu, mas já casado, com a mulher barriguda na espera do primeiro rebento. O cara viera do Rio, falando e chiando nos esses, como todo bom carioca que se preza. Mas, um bom sujeito, afinal. Quando o Dr. Daniel, o engenheiro que substituíra o Dr. Clovis em Belo Horizonte, vinha para a visita mensal de inspeção às obras, o Ribeiro puxava o meu saco, elogiando meu trabalho à frente do escritório local. O Dr. Daniel, um baiano de bom coração, tremendo ser humano, que já me conhecia do escritório de Belo Horizonte, sacudia a cabeçorra, aprovando os elogios.

Mas eu, sei lá, como todo bom mineiro, ficava um pouco desconfiado com a bajulação. Sempre com um pé atrás com o cara. Afinal, eu fora transferido pra lá no lugar do Brivaldo, demitido, e o Ribeiro era muito amigo dele. Tinha que ter cuidado. Os dois eram fogo, tinham lá suas transas.

Brivaldo, ex-apontador da Franki, um baiano inteligente, fora meu antecessor na direção do escritório em Usiminas. Muito vivo, percebera a chance e se metera em negócios alheios aos da firma. Logo estava de sociedade com um hotelzinho da vila, vendendo sua parte, após o desligamento da Franki, e comprando um bar como único dono, na Vila de Ipatinga. Os negócios iam bem, ele aplicou ainda uma parte da indenização que recebera da firma, sua ambição e vontade de enricar depressa estavam acesas.

Num sábado, combinei com o pessoal de irmos comer uma feijoada no bar do Brivaldo. Severino, Ribeiro, Oswaldo Soldador, Luiz Maquinista, Tião, Odoce, Comprido, Ademar, Mané e Augusto “Apontador” toparam o convite.

O Brivaldo nos recebeu como príncipes, ele mesmo servia os pratos, todo compenetrado. O Ribeiro bateu umas fotos do almoço, o pessoal à mesa, feliz, comendo e conversando animadamente. Logo após, trepamos no caminhão e retornamos. Severino me deixaria no Horto, levando o pessoal à Candangolândia. Procuraria um posto para lavar e lubrificar o F-600, o qual dormia numa garagem improvisada junto ao seu barraco. Estávamos alegres, bebêramos um pouco, comêramos bastante, e a turma da carroceria fazia um alarido dos diabos, mexendo com tudo quanto era peão que passava a pé ou de bicicleta. Foi quando, numa curva, apareceu uma camioneta na contra-mão. Severino desviou, jogando o Ford pra fora da estrada, o bicho saiu quicando em terreno pedregoso, cheio de buracos, alguns operários sobraram da carroceria. A maioria ficou apenas arranhada, muito assustada, mas o Ademar, coitado, levou a pior e quebrou a perna! Gemia de dor quando o pusemos na boleia, por ordem minha. Saltei para a carroceria junto com os outros, ordenando ao Severino que tocasse direto pro hospital da própria Usiminas. Sabia das dificuldades que teria, mas fui em frente.

No hospital, um médico gordinho logo empombou com a gente, pois não éramos funcionários da estatal. Disse que não poderia nos atender, que teríamos de buscar o Pronto Socorro em Coronel Fabriciano. Engrossei com ele, identifiquei-me como o responsável pelo escritório local da Franki, uma das maiores empreiteiras da Usiminas, e exigia o atendimento ao nosso operário, que gemia de dor, face à urgência do caso. Nós pagaríamos o necessário, contando que ele fosse atendido. Não iria atrás de Pronto Socorro coisa nenhuma! Um médico japonês acercou-se, examinou rapidamente a perna do Ademar e nos deu força. Ademar foi encaminhado à emergência, ficamos por ali, na expectativa. Algum tempo depois ele saiu com a perna engessada, devidamente medicado, afinal.

Notei o sorriso de alegria na face de todos os companheiros, levamos o colega pro caminhão e partimos rumo à Candangolândia. Quando me deixaram, antes, no Horto, agradeceram em coro e não pude deixar de ouvir um comentário do Oswaldo Soldador:-

“- O Chefe é fogo, afinou o doutorzinho de merda, vocês viram? ...”

Meu conceito subiu extraordinariamente junto àquela gente simples, leal, dedicada, e daí para a frente a ciumeira profissional do Ribeiro foi desaparecendo. Afinal, ele compreendera, na parte técnica eu não me metia, a competência era dele, ele comandava os homens na obra, com a máquina, conhecia o seu serviço. Mas a administração geral, a responsabilidade pelo escritório, pela obra como um todo, essa era minha e dela eu não abria mão, apesar da pouca idade e da inexperiência.

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O tempo passava rapidamente, os departamentos da usina iam sendo levantados, a Laminação de Chapas Grossas, a Laminação de Chapas Finas, o Primeiro Alto Forno, a obra ia tomando contorno. Tínhamos também uma outra obra, a do Rebaixamento do Lençol D’água, junto ao leito do Rio Piracicaba, cujo encarregado, o Zezinho, um sergipano de boa cepa, era um sujeito formidável, chegado a uma boa pescaria.

Duas vezes por semana, Severino me levava até lá para uma visita de serviço. Trazia comigo, nessas ocasiões, uma carabina Flober 22, no caminhão Ford, e na volta, entardecendo, surpreendíamos uns patos selvagens na lagoa próxima. Não raro, abatia um ou dois para o Gaúcho fazer um ensopado no almoço do dia seguinte, na obra.

De vez em quando a saudade da noiva apertava, dos pais e irmãos em Belo Horizonte. Já se passavam três meses, eu naquele fim de mundo, só trabalhando, trabalhando feito um danado. Escrevia muito para a minha noiva, mas ela custava a responder. Eu fazia planos, pensava seriamente no casório, mas não vislumbrava chance de morar com ela ali naquele mato. A mulher do Ribeiro, vinda do Rio, chiava muito, reclamava de tudo, ele ficava quase louco, às vezes não dormia, perdia o sono. Sabia também que o estaqueamento das áreas destinadas à minha companhia estava terminando, somente mais alguns meses de labuta e voltaria à capital mineira. Isso me confortava. Vivia, pois, curtindo a saudade, lendo e relendo as cartinhas recebidas da noiva querida, geralmente em resposta a duas, três cartas da minha parte, impaciente que eu era!...

Nos fins de semana, Maru e seu pessoal do Banco me tiravam da fossa, saindo para uma cervejada e seus programas costumeiros em Coronel Fabriciano. Meu trabalho, contudo, era mais atraente que o deles, aquela rotina inalterável do Banco, o dia inteirinho por detrás dos balcões, atendendo à peãozada ignorante de Ipatinga, nego que ia depositar, receber ou mandar dinheiro pra algum parente distante. Aquilo devia endoidar, eu pensava. Certo dia o Maru me preveniu:- no final do mês iríamos conhecer sua terra, Governador Valadares!

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Finalmente, o dia esperado por todos nós:- iríamos conhecer a cidade do Maru, sua família (tinha umas irmãs bonitas, diziam), seus amigos. Governador Valadares era famosa, principalmente por causa da sua vida noturna muito intensa. Já em Belo Horizonte eu ouvira falar.

Rumamos para Coronel Fabriciano, onde pegaríamos o trem. Estava um sábado bonito, cheio de sol e tudo colaborava. A turma estava animada, Geraldinho, Augusto “Apontador” e os outros. Maru comandava a tropa, como sempre. Em Fabriciano, esperamos algum tempo na estação. Chegando o trem, vindo de João Monlevade, embarcamos. Todos num mesmo vagão, numa algazarra enorme. Geraldinho era quem mais tagarelava.

A máquina saiu vagarosamente, passou pelo cemitério, pela zona boêmia, nossa conhecida, e começou a deixar a cidade para trás. O verde do mato, árvores, gado pastando tranqüilamente, o casario mais humilde e afastado e daí a pouco o grande Rio Doce, serpenteando por entre as curvas do vale. A ferrovia seguia paralela.

Maru abriu uma sacola, puxou uma garrafa de pinga, tomou um gole, estalou a língua e ofereceu aos outros:-

“- Provem, esta é da boa. Experimentem!”

O veneno correu de boca em boca, Geraldinho fez careta, falou mal da cachaça. Maru replicou dizendo que ele ficaria a seco até Valadares pela ofensa. Gargalhada geral, pois a viagem duraria umas quatro horas. Geraldinho apelou, desculpou-se, mas nada adiantou. Maru já estava meio puto com ele, fizera umas cagadas no serviço do Banco durante a semana, Maru aguentara as pontas com o Gerente, levara uma bronca em seu lugar, afinal era o Chefe do Expediente. Geraldinho então cismou de contar anedotas, para matar o tempo. Contou a primeira, uma de português, fraquíssima e já conhecida de todos. Ninguém riu, Maru engrossou de vez:-

“- Geraldinho, ou você fica quieto ou mando parar o trem e você desce na marra ...”

A paisagem se modificava à medida em que nos afastávamos de Fabriciano. Agora, a mata de verdade, o rio ainda mais largo, aquele mundaréu de água, pássaros de várias espécies nas copas do arvoredo, bandos de capivaras mergulhando nas águas à passagem da locomotiva. Alguém comentou que ali dava muito peixe, dourado principalmente.

O tempo foi passando, a cachaça acabando (Geraldinho, no seco), a Maria-Fumaça soltando seu apito rouco e daí a pouco, depois duma colina, Governador Valadares!

Era bonita, de fato, a cidade. Uns morros em volta, muitas casas, alguns prédios, praças arborizadas, tudo aparentemente muito organizado.

Na estação pegamos um táxi, um velho Chevrolet, guiado pelo Seu Chico, conhecido do Maru, que nem precisou indicar o caminho. Ruas largas, gente olhando vitrines, mulheres e crianças, velhos nas praças, papeando naquele começo de tarde ensolarada, a Igreja matriz, o cinema, tudo nos encantava. A gente ficava metida naquele mato danado que até esquecia os costumes duma cidade grande, civilizada. Aquilo nos fazia muito bem!

O Chevrolet do Seu Chico cortou uma praça, pegou uma ruazinha que dava pros lados duma ladeira e, na base, a casa grande, rosada, da família do Maru. Sua mãe, Dona Vitinha, nos aguardava na varanda enorme, repleta de plantas ornamentais. Uma de suas irmãs, Moema, cuidava da gaiola de um passarinho. A outra, Clarice, cantarolava nos fundos da casa, batendo roupa no tanque.

Dona Vitinha nos recebeu calorosamente, Maru perguntou pelo velho pai, ela retrucou que devia estar pelos botecos àquela hora, tomando o aperitivo pro almoço que fora retardado por nossa causa. Maru nos indicou um quarto, onde ficamos, Augusto “Apontador”, Geraldinho, Djalma e eu. O Aroldo e o Márcio ficariam no dele, Maru, já que dois de seus irmãos serviam ao Exército em Belo Horizonte. Após um banho gostoso, nos encontramos todos à mesa para o lauto almoço, já agora com Seu Filomeno, um tanto alegre por conta dos aperitivos, à cabeceira do móvel.

Após a refeição, dirigimo-nos aos quartos para uma soneca. Era importante o descanso, pois uma grande noitada nos aguardava, segundo o Maru, que tinha bolado um programa genial.

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O cabaré da Rosinha era, de fato, bastante animado. Ambiente simpático, boa orquestra, moças bonitas circulando, gente dançando, alegria em todas as mesas, uma festa.

Maru foi chegando, a curriola atrás. Buscou uma mesa próxima aos músicos, num canto seu preferido. As meninas o cumprimentavam, ele respondia, nos apresentava, um a um, seus companheiros do Banco. Ficamos por ali, logo vieram cervejas geladas, o papo animado, a música boa. Chegou Verinha e tirou o Maru para a dança. Geraldinho, assanhado, pegou uma negona pela cintura (ele era chegado às crioulas, como sempre dizia), saiu rodopiando. Augusto “Apontador” resolveu circular também, Djalma seguiu seu exemplo, ficamos à mesa somente eu, Marcio e Aroldo. Nossa preocupação era não deixar o Maru beber muito, pois ele de fogo perdia a cabeça. E nós, perderíamos a noitada, pois o que o cara dava de trabalho quando bêbado não estava escrito em nenhum gibi.

À meia noite a orquestra parou, o “crooner” pediu a atenção de todos os presentes para o número especial da noite. Marisa, a gatona loura, famosa “strip-teaser” , iria se apresentar aos privilegiados freqüentadores do cabaré. Um burburinho de vozes, cadeiras se arrastando, gente procurando um ângulo melhor para observação, a orquestra lascou aquele tema da “Pantera Cor de Rosa”, a loura sensual entrou, com meneios de corpo ensaiados, tremenda profissional.

Eu, confesso, ainda não tinha visto um número de “strip-tease” ao vivo, ao natural. Já vira no cinema, naquele famoso “Europa de Noite”, o primeiro dos filmes da série mundo cão. Mas assim, ao vivo, era a minha primeira vez e procurei aproveitá-la ao máximo. A orquestra caprichava na melodia, Marisa se contorcia graciosamente, as peças de roupa iam caindo, uma a uma, a platéia assoviava, meio amalucada, até o clímax do espetáculo, no que a loura ficava nuinha em pelo, só de sapato alto! O cabaré explodia, nego queria subir ao palco, o pessoal da segurança continha os mais exaltados, uma apoteose de alegria.

Lá pelas tantas, a turma já encharcada de Brahmas, saímos pra jantar no Bar do Bié, onde se comia o melhor picadinho noturno de Valadares, segundo o Maru. Só que, chegando lá, o Geraldinho, no maior pileque, insistia em pedir um risoto de frango com arroz (?). Realmente, depois dum programão daqueles, risoto de frango com arroz era o máximo.

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Numa sexta-feira, à noitinha, o Eudes, Toninho e eu nos dirigíamos à pensão para jantar, quando fomos abordados por um sujeito gordo, na saída do alojamento. Ele nos oferecia uns bilhetes para uma sessão de cinema no bloco “C”, no quarto que dividia com mais dois rapazes. Custavam Cr$50,00 (na época, uma grana) e o filme era de 16 mm, pornográfico, que comprara dum gringo no Rio. Falou maravilhas do filme e nos convenceu:- compramos três bilhetes. Explicou que o número era limitado, que só vendia para gente do alojamento e a sessão começaria às vinte horas em ponto. Pediu para não nos atrasarmos, a fim de não perturbar a exibição, fez mil recomendações. Tudo bem, tudo bem, dissemos. Podia ficar tranqüilo, seríamos pontuais.

Logo na pracinha do Horto, antes de chegarmos à pensão, o Eudes foi reconhecido por um sujeito recém chegado à Usiminas, e o papo começou ali mesmo, entre abraços animados. O rapaz fora seu colega, anos atrás, em Juiz de Fora, num internato. Eudes voltara a Belo Horizonte e ele ao Rio de Janeiro e agora se reencontravam justo em Ipatinga, Usiminas. O carinha estava trabalhando numa montadora do Rio, também empreiteira nas obras da usina, e viera por uma temporada. Resolveu nos acompanhar até a pensão, para o jantar, e o papo continuou entusiasmado.

Toninho e eu ficamos ouvindo as histórias deles, aproveitando a deixa, pois o Eudes era naturalmente caladão, quase não conversava. E o encontro do amigo lhe dera um ânimo formidável, ele discorreu sobre sua vida no internato, sobre sua família, sobre suas aspirações, enfim, o cara estava se abrindo. Era bom aquilo, e respeitamos. O sujeito também tagarelava um bocado, falando das suas experiências, e a gente só ali, curtindo o papo dos dois.

A janta demorou mais do que o costume, voltamos devagar para o alojamento, ainda com os dois amigos no maior bate papo. Foi quando nos demos conta do cineminha! Já eram quase vinte e uma horas, será que ainda não havia terminado? Assim mesmo resolvemos arriscar e procuramos o tal apartamento do bloco “C”. Ao nos aproximarmos, notamos uma multidão nervosa, grupos conversando em voz alta, gente preocupada, alterada. Indagamos o motivo do alarido e alguém nos explicou:-

“- Os caras do 112 resolveram fazer um cineminha especial hoje, sabe? Filme 16 mm, de sacanagem, manja? Venderam os bilhetes a Cr$50,00, arrumaram o equipamento e quando deu oito horas da noite começou a chegar gente. Daí a pouco, o apartamento quase lotado, chega um caboclo alto, forte, de bigode e quis entrar na marra. O gordo, na porta, falou pra ele que o ingresso custava cinqüenta pratas, mora! O caboclo retrucou:- “- Que ingresso, que nada, meu chapa! Aqui é polícia. Tão tudo preso!...” E invadiu o recinto, com os soldados do Posto Policial, que vinham logo atrás. Levou a maquininha, o filme e toda a turma que estava lá dentro. Tudo na Delegacia, encanados, velhinho! Alguém dedurou, meu chapa! Só pode ter sido. E ainda teve uns caras do Banco que quiseram engrossar com a polícia. Pois entraram no cacete aqui mesmo, na vista de todo mundo!...”

Turma do Banco ... Coitado do Maru, eu logo pensei. Puta merda, que sorte a nossa, né? Fomos pro apartamento, rindo baixinho e agradecendo o providencial aparecimento do amigo do Eudes. Tínhamos escapado duma fria!...

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Luiz Maquinista, paraibano velho de guerra, um sujeito magrão, espigado, era da minha equipe Franki e estava noivo da filha de um vizinho seu, na Candangolândia. Estava apaixonado, o pobre rapaz, e fazia planos para o seu casamento. Mas como ganhava pouco, via mil dificuldades para a realização do seu sonho. Agarrava-se ao trabalho, fazia muita hora-extra, procurava economizar em tudo. Sobrou uma vaga lá no quarto nosso, um sujeito de São Paulo que fora demitido pela Usiminas, eu interferi para o Luiz Maquinista, conseguindo-lhe a vaga. Ele agradeceu muito, pois já deixaria de pagar o mísero quartinho no pardieiro da Candangolândia, onde se hospedava, sobrando assim mais algum pro casório.

O tempo corria, Luiz Maquinista cada vez mais apaixonado. Aos sábados, se perfumava e picava a mula pra Candangolândia . Noivava sábado e domingo direto. Só o via de novo na segunda-feira, já em cima do caminhão que me pegava no Horto. O pessoal brincava com ele, tirava um sarro, dizendo que ele tava cada vez mais magrelo por causa do trabalho e das preocupações, e que sua noivinha estava engordando ...

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Ave Maria, foi de repente, Luiz Maquinista chegou e me convidou para seu padrinho de casamento:-

“- Mas, Luiz, o que houve? Já arrumou os troços? Não era para o próximo ano?”

“- Ah, Chefe, me desculpe, não agüentei mais esperar. Comi a menina e agora o recurso é casar bem depressa ...”

Num sábado ensolarado, estávamos lá na igrejinha de Ipatinga, todo mundo em roupa domingueira, cabelos empastados de brilhantina, água de cheiro, barbeados, botas engraxadas. E não poderia ser diferente, um companheiro nosso estava se casando e eu seria o padrinho.

A cerimônia foi simples, a noiva estava muito constrangida, a barriguinha já começava a se desenvolver, o Luiz Maquinista meio encabulado, os sogros de caras amarradas, um negócio. Mas o padre teve uma conversa bonita com os dois jovens apaixonados, um padre moderno, simpaticão, e todos saíram felizes da igreja, noivos, parentes, amigos e convidados.

Na casinha da noiva, os comes e bebes. Um barril de chopp lá no fundo do quintal, carne chiando na churrasqueira improvisada pelo pai da menina, cachaça à vontade circulando, uma beleza. Na sala, a animação era total. Um bolerão do Waldick Soriano na vitrolinha, os casais dançando coladinhos, salinha pequena, outros namorando lá fora, um chamego geral. Eu, Augusto “Apontador”, Maru e Geraldinho estávamos por ali. Maru logo tomou uns goles da branquinha, ficou meio quente. Pegou uma morena, saiu dançando e sussurrando ao seu ouvido a “canção do bandido” , como costumava dizer. Logo sumiram pro escurinho, lá no fundão do quintal, muito depois da churrasqueira. Fiquei preocupado, disse ao Augusto:- “- Breve teremos outro casamento ...”

Geraldinho falou que não entendeu, Augusto “Apontador” explodiu em gostosa gargalhada, acabei gargalhando também. Daí a pouco chega o Maru todo amarrotado, sem a morena. “- O que houve?”, perguntamos-lhe.

“- Levei a nega pra trás dumas bananeiras, lá no fundo. Queria comê-la lá mesmo, mas ela negaceou. Acabou me tocando uma punheta, mas com tanta raiva que quase me arranca o saco. Já dispensei ...”

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Usiminas começava a tomar forma devagar. A obra era de uma grandiosidade impressionante. Já apareciam as primeiras estruturas metálicas, os primeiros galpões, depósitos. O ritmo dos trabalhos continuava febril. Alguns colegas partiram, uns transferidos, outros de vez, contratos rescindidos. Oswaldo Soldador foi para Barroso, na expansão da fábrica de cimento de lá. O Ribeiro voltou pro Rio de Janeiro, de tanto a mulher reclamar, falando em sair da Franki e fazer concurso pro Banco do Brasil. Chegava gente diferente, outras empreiteiras, caras novas. Nasceu o filho do Luiz Maquinista.

Até no Banco houve mexida, transferiram o Maru para Brasília. Perdi o meu amigo, o sempre disposto Iramaru, o imprevisível, o alegre, o insopitável companheiro dos movimentados finais de semana em Coronel Fabriciano. Sem ele, Ipatinga não seria mais a mesma. E não foi mesmo!

Soube, muito tempo depois, já em São Paulo, que ele se casou em Brasília, teve um filho e acabou falecendo num acidente estúpido de trânsito!...

Foi quando apareceu o Cerqueira, o auxiliar do Adilson, do escritório de Belo Horizonte, que viera substituir-me. Mas assim, de repente, qual o problema, eu indaguei?

“- Abra o malote. Tem uma correspondência explicando.”

No malote havia um memorando. Informava que eu deveria transmitir os serviços ao Cerqueira e, dentro de uma semana, no máximo, apresentar-me ao escritório de Belo Horizonte, donde seria transferido para São Paulo. O Dr. Clovis estava formando uma equipe lá e mandara buscar-me. O movimento estava enorme, iriam mudar de escritório inclusive e ele queria pessoal qualificado. Como as obras estavam chegando ao fim em Usiminas, o Cerqueira vinha para render-me. Outra missão me aguardava em São Paulo. Dr. Clovis já mandara buscar o Kaminski em Porto Alegre e o Mota, no Rio de Janeiro. Faltava o mineiro aqui, uai!...

Ultimei os preparativos e dentro de alguns dias estava pronto para o regresso à capital mineira.

E no meu último dia em Ipatinga, ainda me aconteceu uma boa:- combinei com o Severino e o Cerqueira de almoçarmos no bar do Brivaldo, sendo que de lá mesmo eu partiria direto pro aeroporto em Acesita.

Após o almoço, despedi-me do Brivaldo e sai para tomar o caminhão. Severino manobrava e, de repente, atropelou uma porca enorme, que se chafurdava no lamaçal defronte ao bar, numa grande poça. O animal soltou um grunhido, veio gente correndo, inclusive seu dono, um comerciante local, sujeito ignorante e metido a valentão. Puxaram a porca de sob o caminhão, cabeça esmagada, a sangueira se misturando à lama. O dono gritava, muito nervoso.

Pedi calma, expliquei-lhe que era proibido criar animais à solta nas ruas, quis dar uma de moral pra cima do bruto e quase me estrepei. Ele se aborreceu, ficou mais bronco ainda, abriu o paletó, balançou o quadril, apareceu um revolver na cinta. Aí, falou, em tom de desafio:-

“- Doutor, aqui em Ipatinga num tem disso não. A lei é nós mesmo que faz ...”

Olhei o relógio, ponderei, perguntei-lhe quanto valia a porca, ele chamou um compadre seu, calcularam, paguei a metade do valor e falei pra ficar com o bicho, pois eu estava voando pra Belo Horizonte e temia que ela não coubesse no teco-teco!...

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Fortaleza, 12/1984

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 17/01/2010
Reeditado em 12/05/2013
Código do texto: T2034422
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