Prosopopeiando (1° postagem)

Eu corro, tu corres, e ela? Bom... correr ela não corre.

Em uma manchete veiculada no jornal Folha de S Paulo tinha a seguinte notícia: “Tecnologia corre para reduzir custo de produzir no pré-sal”. O termo “pré-sal” refere-se às reservas petrolíferas encontradas em uma camada muito profunda no subsolo marítimo brasileiro. Contudo, o verbo “correr” é intransitivo e dentre seus vários significados, num primeiro momento, nenhum pode ser relacionado com o substantivo “tecnologia”... mas porquê mesmo hein? Ora, caro leitor, do Aurélio: “tecnologia: conjunto de conhecimentos; princípios científicos que se aplicam a um determinado tipo de atividade”. Ou seja, a tecnologia não pode correr, pois não tem pernas, não se move, não faz percurso nem escorre.

O recurso utilizado pelo jornalista é chamado personificação, – ou prosopopéia para os amantes do português arcaico - que nada mais é do que a atribuição de características humanas - ou qualquer outro ser vivo ou motorizado – a seres inanimados. Essa figura de linguagem é utilizada às pencas nos diversos veículos de comunicação. Um exemplo disso é a manchete que saiu no jornal “O Estado de S. Paulo” dia 06/09, no caderno “Economia”: “Petrobrás gastará R$480 milhões em publicidade”. Perceberam que “Petrobrás”, na verdade, significa que quem gastará toda essa grana será o Governo Federal para que sua Menina dos olhos tenha mais visibilidade em terras distantes da mãe gentil?!

Bom, mas voltemos à tecnologia, ou melhor, à manchete sobre a tecnologia. O que o repórter quis dizer é que os engenheiros da Petrobrás devem continuar com suas pesquisas tecnológicas para que estas avancem e a extração do petróleo não saia muito cara, senão a coisa vai ficar preta. Aliás, preta é que não vai ficar, mas que boa parte das esperanças para que o Brasil finalmente vire um país de ponta cairá por terra é inegável, vamos ter que vender o almoço para pagar a janta. E falando em janta, eu vou pedir pra Dona Pétro um trocado pra comprar a minha janta porque eu tô com fome, e a coisa tá complicada por aqui. Espero que ela não me negue, afinal de contas, quem tem R$480 milhões para gastar com publicidade pode me arrumar um trocado pra eu poder comprar uma coxinha e um suco de laranja. Quem sabe ela tira o escorpião do bolso e ainda rola uma paçoca de sobremesa?

Sem mais.

Gabriella Passion
Enviado por Gabriella Passion em 16/01/2010
Código do texto: T2033540
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.