DIA DE FEIRA

Ao contrário de muita gente, meu pai considerava o dia de ir à feira o seu preferido. Saía logo ao amanhecer e regressava muito corado, falante, carregado de pacotes, sacolas e um cesto, que depositava no chão da cozinha quando entrava em casa. Os passos seguintes consistiam em organizar tudo em seus devidos lugares. Mamãe corria de um lado ao outro na tentativa de superá-lo, enquanto os dois trocavam comentários sobre a qualidade, a quantidade e principalmente, o preço de cada produto retirado de sua embalagem.

- Alfredo, chamava mamãe com a trança de cebolas e a corda de fumo nas mãos – pendure-as na viga das telhas.

E ele obedecia.

Depois de esvaziadas as sacolas, os pacotes desfeitos, os papeis eram religiosamente dobrados. Terminada a limpeza da cesta, papai corria até o fundo do quintal onde existia um depósito de tralhas para guardá-la.

Somente então ele se dedicava à prazerosa tarefa de descascar abacaxis – sua fruta preferida – em rodelas finas, reservando as sobras espinhosas entre a casca e a polpa para serem aproveitadas no suco do almoço.

O aroma se espalhava no ar e todos acorriam. Logo, nada restava para contar a história dos abacaxis recém-chegados da feira.

Ato contínuo, a mesma tábua de carne muito bem lavada teria nova serventia. Salgar um alvo toucinho e cortá-lo em tiras finas, jogadas numa panela para se transformarem em banha.

Nesse ínterim, a lenha deveria estar cortada, arrumada e umedecida com querosene numa boca do fogão. Depois de acesa, meu pai fritava o toucinho com a panela bem tampada.

A turma, que há pouco o ajudara a devorar as rodelas dos abacaxis, novamente acorria com as bocas salivando de antecipado prazer.

Apesar das recomendações de mamãe, que temia ver seus filhos encaroçados como casca de jaca em consequência dos torresmos, quando o meu pai terminava de escorrer a banha e espalhava farinha de mandioca quebradinha recém escolhida na feira sobre os torresmos, às favas os prováveis caroços!

Esse detalhe tornava mais deliciosos aqueles momentos de puro prazer.

MCC Pazzola