CINZAS QUE ASSUSTAM...

Evidente que a tragédia do Haiti assustou o mundo, porque o terremoto que assolou um País tão pobre foi dos mais intensos dos últimos tempos, pois não houve um único edifício, ou casa popular que resistisse ao abalo que sacudiu toda a região de Porto Príncipe, dizimando milhares de vidas humanas e deixando muitas feridas no corpo e na alma.

Quem não resistiu ao impacto e foi se juntar com Deus, certamente que não terá grandes sofrimentos além daqueles que lhes seriam reservados como seres perenes, já que os mortos não terão de enfrentar a luta pela sobrevivência e o holocausto urbano vivenciado num cenário de causar arrepio, ante uma destruição tão imensa de tudo que se construiu em uma vida e também ante a falta de esperança que se vê estampada no rosto de cada haitiano que perambula pelas ruas daquela cidade em ruínas.

São horríveis as imagens que vivenciamos pelos canais televisivos que mostram as pessoas andando sem rumos, desviando dos corpos que são vistos nas vias urbanas, cobertos com tecidos ou com um papelão qualquer e que devem ser enxergados com indiferenças, porque o momento não é para recolher um corpo inerte, pois a urgência exige que sejam providenciadas algumas formas de sobrevivência para aqueles que não se foram para a encruzilhada da morte. Agora, aqueles que em um instante agradeceram aos Céus por estarem vivos, depois que as cinzas se assentaram no chão rebatido, percebem que os tremores ainda continuam mais intensos, pois agora o que treme é a necessidade de subsistência, pois a precária estrutura de uma cidade também ruiu por completo, deixando as pessoas à mercê da própria sorte, sem água, sem luz, sem comunicação, sem teto, sem comida, sem abrigos, sem destino e sem esperança.

As pessoas não estão tempo de ao menos chorar pelos entes queridos que se foram, ou terem no mínimo uma forma precária de enterrá-los com dignidade, já que estão sendo obrigados a lutar nas sombras da vida que lhes restam, por isso tem de sair urgente das penúrias do sentimento, para enfrentar a dureza da razão, que a cada sol que nasce se torna um martírio mais acentuado, considerando que as sombras do terremoto ainda persistem em dificultar a chegada de ajuda internacional, considerando os estados das estradas e os meios inadequados que poderiam amparar a ajuda que vem mais rápido, através dos vôos das aeronaves que vem do exterior.

Aí vem aquelas indagações que todos nós humanos temos de fazer, porque nossos sentimentos exigem explicação para o sofrimento: Por que tais terremotos e tragédias relacionadas com a natureza tem atingido países tão pobres e tão despreparados estruturalmente? Evidente que nenhum de nós é capaz de oferecer tal resposta, porque ela só pode ser explicada por um Ser Superior, com o qual, não temos condições de dialogar, a não ser com nossas filosofias e nossas crenças. Entretanto, a nossa inteligência e a nossa forma de estudar a vida como um fenômeno bipolar, constituído de espírito e de encarnação, havemos de atribuir tais tragédias à necessidade de que a humanidade se veja alertada pela dor, já que não consegue ser sensibilizada pelo amor.

Em razão desse sentimento de penúria e de complexidade que toma conta dos corações no mundo inteiro, diante de tanta dor e tanto sofrimento alheio é que renasce no seio das Nações o compartilhamento do amor, através da solidariedade e vontade conjunta e inequívoca de ajudar as pessoas a sobreviver, onde os Dirigentes das diversas Nações esquecem suas diferenças e suas guerras para se dar as mãos, levando socorro aos necessitados. Isso é tão humano e tão grandioso que penetra em nosso peito como um serpentina de emoções, trazendo segurança e esperança, de tal forma que as pessoas que estão sendo atingidas, ao verem que estão sendo observadas com tanto carinho, encontram um alento dentro de seus corações e cada uma delas consegue forças para renascer dentro de sim mesmas e lutar pela reconstrução de um país.

Isso para mim é uma coisa tão linda e tão grandiosa que só pode ser creditado a Deus. Parece que a Supremacia do Universo quer mostrar que tais forças existem e por isso deu ao Brasil o exemplo mais próximo da dor, ao levar para junto Dele aquela que atualmente mais significava em termos de doação e de amor ao próximo, conduzindo a Mãe Zilda Arns para uma reunião no Haiti no dia da tragédia, para que sua morte reforçasse ainda mais o seu legado de ajuda humanitária ao mundo infantil, demonstrando que as pessoas precisam se unir ainda mais para salvar as crianças pobres que muitas vezes são impedidas de crescerem, porque nascem num mundo pobre que não lhes garantem a subsistência. Esse terremoto (na mortalidade infantil) é invisível, pois por mais que tenhamos uma comunicação avançada, as mortes individuais de crianças no mundo todo, só pode ser divulgada por estatísticas e que, convenhamos, não convence muita gente. O que observamos hoje - depois da morte de Zilda - é uma Pastoral da Criança reforçada, com várias pessoas declarando que irão se doar ainda mais, por entenderem que devem deixar mais ‘vivo’ o projeto da mãe Zilda Arns.

Assim, com toda a ajuda humanitária que vem do mundo todo, com o esforço de pessoas de fé, temos certeza que em alguns anos o Haiti terá renascido para melhor e as pessoas que hoje sofrem irão saber num futuro que seu sofrimento tinha uma razão de ser.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 15/01/2010
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