Emilia Emilia Emilia - fim

Carta era algo que eu quase nunca recebia, nem convite nem cobrança, exceto as cartas que minha madrinha e prima me enviava, geralmente corrigindo algum erro de português de alguma coisa que eu tinha escrito para ela. Ela tinha o dom de corrigir de uma forma que a gente nunca mais esquece. E eu gostava disso. Mas, chegou uma carta, do Rio de Janeiro, da mãe da minha noiva Noiva? Que noiva? Eu nunca tive noiva e afirmo isso peremptoriamente, afinal, tenho muito boa memória, não bebo e não fumo o maldito (me perdoem os fãs). Não era uma carta, era um festival de descomposturas que faria um noivo de verdade dizer o sim pelo telefone e enfiar a aliança no dedo. Também era uma carta chantagista que insinuava que a filha teria que devolver os presentes ganhos, que eu teria que pagar o vestido de noiva comprado à vista no brechó da minha tia e a roupa da dama de honra. Não lembro bem, afinal não sou obrigado a ter boa memória pra tudo, mas a carta tinha uma três folhas de papel almaço, frente e verso. Eu sempre gostei das letrinhas, mesmo estando em cartas esculhambativas, esqueci que era um sábado de sol e fui vendo o que uma boca grande (ler a Emilia anterior)que não sabe brincar pode fazer pra estragar a vidinha de alguém. Segundo a carta Emilia estava desconsolada, não fazia mais nada, só dormia. Pra mim ela ainda estava era treinando pra ser doméstica. Essa não colou. E quanto mais eu lia menos vontade de casar eu tinha. Mas a gota d’água, o pingo do i, o argumento mais cabal de que Emilia nunca seria a minha mulher de verdade foi quando li que Emilia estava me mandando,só de raiva, as roupinhas do botijão de gás e do liquidificador , que ela ganhou em triplicata, iguaiszinhas, Feitas do mais lindo linholenne. Coloquei a carta debaixo de um disco do Nelson Ned, presente de um desafeto e fui ao futebol .