A TRAGÉDIA e A FÉ

"Como você vem falar em Deus com tanta tragédia ocorrendo. Se Deus existisse, não deixaria aquela boa senhora morrer..."

Esse foi o tom de alguns e-mails que recebi sobre uma crônica-poesia que fiz, em homenagem a Dra. Zilda Arns:

http://cronicasdofrank.blogspot.com/2010/01/ode-zilda-arns.html

Eu ouso falar de espiritualidade em momentos como esse porque nessas horas, não consigo me omitir; aflora o que há em abundância em meu jardim, e não consigo sentir mágoa ou descontentamento, pois só flui compaixão de mim.

Não se fala de Deus somente em tempo de flores.

Estamos no plano da matéria; e as coisas que ocorrem, principalmente com os outros, fogem do nosso entendimento, porque ocorrem com eles, não com a gente. Cabe ao povo que não foi incluído nessas tragédias, ajudar, ou se não for possível,observar; compreender que tudo deve mesmo ter a sua razão de ser.

A espiritualidade não se anula nas sombras, pois é justamente nesse momento, que ela se torna mais necessária para que possamos sair da escuridão da falta de entendimento das coisas que ocorrem na Terra.

Durante nossa vida nessa planeta, muitas são as coisas que ocorrem que não dizem nada a nossa razão; e isso nos abala, pois a nossa mente foi criada para dar sentido as coisas, e quando retorna do mundo sem resposta, cria qualquer pensamento, explicação ou negação para satisfazer a nossa necessidade de resposta. Aceitar que muitas dessas tragédias fogem a nossa compreensão tira todo esse peso inútil de ter que entender tudo dos nossos ombros, e mais leves, podemos, ao menos, emanar luz ou qualquer outro sentimento nobre, ao invés de sujar ainda mais o pensamento coletivo da humanidade com reclamações ou exclamações desantentas, tipícas de quem deseja entender as coisas do mundo, mas nem ao menos se dá o trabalho, de compreender o que circula ao redor do seu umbigo.

O mundo é um lugar maravilhoso para se viver, sim; porém, isso não quer dizer, que as coisas sempre serão harmoniosas, e é justamente, quando as coisas ficam estranhas, quando a morte avança, carregando quem está em sua lista, que surgem pessoas brilhantes, almas caridosas que arriscam a própria vida para salvar outras. Porém, essas atitudes são de graça; a recompensa, se essas ações forem feitas mesmo sem buscar nada em troca, é o próprio bem estar da outra pessoa.

Não entendia isso, pois tinha a ilusão que se eu fizesse algo bom receberia algo melhor em troca; até que um dia percebi que esse saldo não é uma permuta. Quando realizamos algo para uma outra pessoa, não dá para exigir que o mundo nos pague de volta, e é exatamente esse conflito de " saldo injusto" que ocorre quando ficamos sabendo que alguma pessoa boa se foi numa tragédia. Isso abala as nossas estruturas, porque nos sentimos indefesos e inseguros: "se isso ocorreu com alguém tão importante para a humanidade, o que será de mim, que mal consigo tratar o meu vizinho direito?"

Curioso é perceber que nesse momento de dúvida, para muitos de nós, a fé que dizíamos ter, se esvai; e as nossas lamentações, que se espreitavam nas frechas das nossas sombras, se sobressaem e tomam conta da nossa consciência, nos empurrando para aquela afirmação de que só existiria Deus se tudo ocorre de acordo com o que pensamos ser o mundo perfeito. Muitos erguem as mãos para o céu e bradam:

" Deus, o que está ocorrendo? Esse povo já não sofreu demais?"

Ora, vamos deixar as coisas de Deus com Deus; é hora de cuidarmos das nossas coisas! Tentar compreender por que as tragédias ocorrem no mundo é um exercício interessante se soubermos primeiro por que razão provocamos certas tragédias em nossas vidas. Todo mundo já sabe que esse é um mundo da dualidade, e que os opostos não são inimigos, e sim aliados de um balanço maior, que na maioria das vezes, foge completamente ao nosso entendimento.

Se a natureza em sua grandeza transformou os seus atómos em cada um de nós, e não numa cadeira, foi para que pudessemos contribuir de alguma forma, com o Plano Maior. Ficar de braços cruzados, culpando Deus por não fazer um mundo belo e justo de acordo com o nosso juízo, é basicamente, dizer que uma cadeira faria um papel melhor que a gente. Ao menos, uma cadeira, é útil para sentar...

Cada um tem a sua crença, a sua fé, a sua certeza. Quando o mundo balança, há pessoas que se seguram em suas lamentações, porém, há outras tantas que após o desiquilíbrio natural, se aprumam e colocam-se de pé para o que der e vier. Vemos isso, ao acompanharmos as notícias dessa infeliz tragédia no Haiti; e ao percebemos os esforços do mundo todo em mandar ajuda, alimento, medicamento, ou simplesmente, luz em orações, no anonimato de suas casas.

Cada um dá o que tem de sobra na sua dispensa, já dizia o sábio Rabi; e cada um sintoniza com aquilo que mais atrai o seu olhar; nesse momento, em um presídio na cidade de Piraquara, no Paraná, ocorre mais uma rebelião com gente ferindo gente e fazendo tudo aquilo que nem um animal irracional faria com o seu semelhante; ali bem pertinho, em Curitiba, outros tantos homenageiam alguém que perdeu a vida nessa tragédia do Haiti, mas que deixou um legado de esperança, fé e amor para toda a humanidade.

Então, eu te pergunto: qual é a tua sintonia?

Frank Oliveira

15 de janeiro de 2010

Notas: enquanto escrevia essa crônica, lembrei de um hino escrito pelo amigo Gê Marques, dirigente da Escola da Rainha, que faz parte do seu hinário Reinado do Sol, e pensei em compartilhar com vocês.

Falar Em Deus

Falar em Deus todo mundo fala

Eu quero ver é tu vigorar

Emanar amor em meio à batalha

Deixar o Deus se manifestar

Falar em Amor todo mundo fala

Eu quero ver é tu liderar

O batalhão em meio à batalha

Com o coração a te comandar

Falar em Luz todo mundo fala

Eu quero ver é tu iluminar

A noite escura em meio à batalha

Para poder teu irmão guiar

Frank Oliveira

15 de janeiro de 2010

http://cronicasdofrank.blogspot.com