CARNAVAL NO CEDRO

“- Mano velho, vamos ao Cedro, pelo Carnaval? A Consola vai viajar pra terra dela, Mercês do Pomba, com os meninos. Ficarei sozinho...”, apelou o Silvinho, o “Beiçola”, meu querido irmão.

“- Não sei, Silvinho. A patroa está meio desanimada ...”

“- Não tem problema, eu estou legal. Vai com o seu irmão, você adora a sua terra.”, falou sua mulher.

Mas ainda não resolveu de pronto, ficou de decidir no dia seguinte. “Beiçola” queria chamar também o Zé Afonso, outro irmão, precisava de companhia. Queria tomar seus goles na terrinha sossegado, junto aos muitos amigos, contar seus casos, relembrar seus tempos de “crack” do Cruzeiro, Vasco da Gama e América Mineiro.

Motivado pela mulher, falou:-

“- Tá certo, se o Zé Afonso não topar eu vou com você. Me liga amanhã, tá legal?”...

No dia seguinte combinaram de sair cedo no sábado, uma vez que o Zé Afonso, enrolado que era, não fora localizado.

Antes do almoço, pegaram a estrada, Betinho ao volante, o Silvinho já bebericando sua cervejinha em lata, ao seu lado.

A estrada estava movimentada, muita gente viajando, cascando fora da capital, rumo ao interior. “- Merda de cidade, sem praia, não tem lazer, quando vem um feriado é essa doideira ...”, pensou Betinho.

O “Escort” zunia, engolindo os quilômetros, Belô ficando pra trás. Os dois conversavam animadamente, falavam de tantas coisas ... Relembravam bons tempos.

Uma hora e pouco de viagem e chegaram em Sete Lagoas, mais da metade do caminho vencido. Pararam num restaurante à beira da estrada, pra esticar as pernas, tomar um café. Comeram empadas, Silvinho “Beiçola” fazia graças, mexia com o rapaz do balcão, enchendo o saco. Já estava meio mamado.

Voltaram ao carro, retomaram a viagem, agora já muito próximos à terra natal. Dos nove irmãos, somente os dois haviam nascido naquela bucólica e aprazível cidadezinha, seus umbigos estavam enterrados lá, o chamamento era forte! Os demais, todos citadinos, sem muita ligação com o Cedro.

Daí a pouco, após uma lombada, a subida dum morro, a descida, um retão e logo Paraopeba, cidade vizinha, praticamente ligada por uma ponte ao Cedro.

Chegaram, os corações batiam descompassados. Betinho sugeriu a passagem primeiro na casa do primo e compadre Beto, logo ali em Paraopeba (os outros moravam no Cedro). Silvinho topou, foram lá, tomaram café, comeram bolinhos (“Beiçola” mandou um menino buscar cerveja) e dali a pouco pegaram a estrada de novo, agora rumo ao Cedro, destino final.

Foi só descer a estrada velha, o mesmo traçado de sempre (tantos anos se passaram e ela a mesma) , fazer a curva, ultrapassar a ponte e ... pronto:- eis o antigo Grupo Escolar, a Fábrica de Tecidos, o Clube Social de saudosos bailes juvenis, o prédio do antigo cinema, a praça principal, a Igreja Matriz (em reformas) ... Baita saudade!...

Pararam na praça, velhos conhecidos cumprimentavam, amigos já chamavam. O Marcelo do Laudônio montava sua barraquinha “Século XX” para vender suas “louras geladas” à noite, a animação era grande. Bateram papo, deram e receberam muitos abraços, souberam das novidades e riram gostosamente. Por fim, satisfeitos, se dirigiram à casa da velha Tia Judite, para um banho reconfortante e um breve descanso.

À noite, o reencontro com outros amigos e amigas de saudosas lembranças, a animação crescendo na praça, Boli e seus rapazes da banda mandando brasa no Carnaval encomendado pelo novo prefeito (“- A Prefeitura está com a nota ...”, dizia o Zéca do Zebedeu, já “mamado”. Betinho perguntou por que ele não estava tocando o seu trompete com Boli e os outros. “- Não, nada disso. Vou tocar no Bar do Jair Breiada, mais tarde. Só boleros, sambas-canções ... É o anti-carnaval ...”).

Aí vai chegando gente que há muito tempo não viam, o Iôla, o Clovis, o Vicente, Tim Catarino (hoje, músico dos bons, radicado em Belô), a Conceição, a Luciana, a Margarida, o João do Carrim, o Samuel (chapadérrimo), o Chico, o Cuta, os primos Tuca, Quinha, Helio, Creoulo e suas respectivas mulheres, Nerita, Sonia e Mercia, o Fabio, o Emilio “Jacaré” e muitos, muitos amigos e velhos conhecidos!...

O tempo correu, o céu se cobriu de estrelas brilhantes, a meninada corria, desatinada. Boli e seus rapazes continuavam dando o seu recado no palanque, a moçada sambava na rua, alegre, descontraída.

Já tarde, cansados mas felizes, abraçados, Betinho e Silvinho procuraram a casa da Tia Judite para um sono reparador. De almas e corações leves, recompensados!

“- Êta ferro, sô! Meu Cedro velho querido, terra danada de boa, minha gente! Amanhã, domingo, tem mais. Haveremos de arrancar do peito toda a saudade!...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 28/02/97

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 15/01/2010
Código do texto: T2030677
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