HAITI - AS IMAGENS DA MORTE

Há um ditado antigo que cita: “se não bastasse à queda, ainda veio o coice”. O povo haitiano é o mais miserável das Américas, isso todo mundo está careca de saber; que o país caribenho só perde em miséria para poucos da África, isso também todo mundo está cansado de ler; que eles vivem uma tensão desgraçada desde o golpe que depôs Jean-Betrand Aristide, isso também é sabido por todos; que no país há um dos maiores índices de tráfico de drogas da região e que a vida humana não vale praticamente nada, isso também é fato; que o povo há mais de 100 anos passa fome e vagam entre favelas e lixões para terem a sobrevivência, os livros e as reportagens também nos contam, mas a terem um golpe cruel de uma catástrofe como o do terremoto do último dia 13 de janeiro, isso ninguém imaginava!

O governo de René Préval fala em 100 mil mortos, a imprensa diz que não passa de 50 mil e a ONU, esta não está falando nem fazendo praticamente nada. As imagens mostram corpos nas ruas de Porto Príncipe amontoados e já em estado de putrefação servindo de alimentação para abutres selvagens que sentem o odor há léguas; crianças, velhos e jovens sem braços, pernas, faltando pedaços da cabeça e muitos, muitos sem parte da pele, vagam pelas ruas sem terem onde dormir, excretar, comer e beber água.

Jornalistas que estão em Porto Príncipe ou na vizinha República Dominicana afirmam que todas as faces da morte estão presentes na capital do Haiti; eu afirmo que pelas fotos que me chegou através da France Press, o inferno se instalou no purgatório! O que se observa nas fotos são milhares de pessoas com fome, sede, crianças jogadas nas ruas porque perderam os pais e pais desesperados a procura de seus filhos; milícias armadas dos vários comandos criminosos que amedrontaram a nação, agora usam suas armas para saquear quem ainda tem um copo d’água ou um pedaço de cão morto que saciaria sua fome; o que eu vi nas dezenas de fotos que chegaram foi uma visão dantesca.

As ilhas das Caraíbas, onde está o Haiti, registra a presença humana há mais de 7 mil anos; depois disso, em 5 de dezembro (meu aniversário) de 1492 o próprio Colombo aportou naquelas terras e fincaram a bandeira da Espanha; mais tarde, reivindicada pela França, virou um domínio misto, onde a Europa estava de olho na sua produção de açúcar, cacau e café. Antes mesmo do final do Século XVI, toda a população nativa havia sido dizimada; era a primeira grande desgraça que pairou sobre o lugar.

O Haiti passou por revoltas de escravos, foi retomado pela Espanha; o povo viu 16 governadores gerais sendo assassinados; tropas estadunidenses ocupando o país em duas ocasiões e em 1957, o mesmo povo sofrido que tanto lutou e somente viu derrotas, teria que amargar o que praticamente toda a América Latina amargou: uma ditadura. François Duvalier, o Papa Doc, instaurou um feroz absolutismo no lugar e foi criada formalmente a divisão policial chamada de “totons macoutes”, que pode ser traduzido como “bichos-papões”.

Papa Doc mandou matar milhares de pessoas, perseguiu a igreja, roubou tudo que podia da já miserável nação e antes de morrer em 1971 deixou o legado para seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc.

Entre 1971 e 1990 Baby Doc dominou a selva haitiana, porque não se podia considerá-la como nação, com as mesmas mãos de ferro do pai, mas o povo inocente e com sede de uma democracia que já tradava em mais de 500 anos, depôs Baby Doc, que deixou um de seus lacaios no comando até 1990; somente depois de tantas desgraças é que elegeram o padre de esquerda Jean Bertrand Aristide, que foi deposto, retornou em 1994, saiu novamente, enfim, entre idas e vindas, Aristide foi acusado de roubo e de ter permitido o Haiti sair da desgraça profunda para a morte. Aristide foi deposto pela última vez em 2004 e de lá para cá, quem anda dando às ordens no lugar é a ONU, mesmo com um governo eleito.

Se observarmos bem, o Haiti que tem 518 anos de descoberto, jamais se viu numa situação pelo menos razoável; o povo que se originou depois dos indígenas, de maioria negra e com fortes laços africanos pela origem escrava (90%0, jamais sentiu qualquer vontade de sorrir ou de se afirmar feliz. Não há emprego, sistema bancário, lavouras, exportações, importações, faculdades de respeito, hospitais, muito menos os pilares básicos para se manter a vida com o mínimo de dignidade. Não há leis ou um sistema de governo que amaine a desgraça humana em todos os sentidos e por este ponto de vista, por mais desumano que seja; o terremoto levou ao país apenas o golpe de misericórdia para muitos que já estavam mortos e não sabiam.

As poucas pessoas não haitianas que viviam por lá, ou eram obstinados da vanguarda humanista, religiosos missionários abnegados ou militares a serviço da ONU, como a Força de Paz liderada pelo Brasil. Agora estão falando em reconstrução do Haiti, como se os 100 milhões de dólares doados por Obama e as esmolas do resto do mundo fossem suficientes para restaurar uma ignorância profunda e crônica da noite para o dia.

Enquanto milhares de zumbis vagam pelas ruas devastadas de Porto Príncipe a procura do nada e esperando o momento da morte, governos de poucos países enviam militares que chegam sorrindo e empunhando bandeiras ao descer dos aviões, como se fosse propaganda da piedade internacional!

Alem de qualquer cifra monetária doada e de qualquer donativo que o mundo precisa doar, o Haiti precisa de uma força sobre-humana que lhe permita o acesso a educação e imediatamente a restauração da ordem pública; eles precisam banir os tiranos que estão à espreita somente no aguardo do momento de entrarem no palácio demolido e de posse de um fuzil decretar mais uma vez a instauração de uma ditadura, aliás, comum naquelas bandas influenciadas pela tirania de Castro.

O Haiti, que quase já foi aqui (no Brasil), não precisa de salvadores da pátria; gente com o discurso similar ao de Edir Macedo ou do Henri Cristo; o Haiti precisa de uma força de coalizão, liderada por alguém sério, para primeiro retirar os milhares de mortos das ruas, medicarem os feridos, construírem abrigo para os sobreviventes e começar a planejar o futuro que lhes traga lucros, visitantes e divisas para a economia fragilizada por séculos de pilhagens; quem lucraria com isso tudo? A humanidade!

O povo do Haiti precisa regredir imediatamente deste mergulho nefasto da escuridão promovida pela ignorância, analfabetismo e por um grupo néscio que pensa estar lucrando algo com a miséria alheia e esta decisão, infelizmente, não depende somente da vontade internacional, que o diga a Alemanha pós Hitler!

Bem o mal as nações vizinhas do Haiti são potências no turismo; Jamaica, Cuba, República Dominicana e Porto Rico lucram milhares e milhares de dólares todos os anos explorando as belezas naturais que o Caribe lhes deu de graça e o Haiti não é a exceção; há praias belíssimas de Anse-a-Pitre, primeira fronteira com a República Dominicana até Pepillo Salcedo, a última fronteira; pode-se se explorar no Haiti todos os tipos de turismo; no país há história, lagos, florestas, praias lindas e muito lugar para se construir hotéis, resorts de luxo; alem de tudo isso, ele está geograficamente muito bem posicionado, ficando perto de Miami e da América do Sul, portanto, vôos regulares são o que não lhes faltariam, mas isso tudo, repetindo, só depende da vontade popular e das regras constitucionais sérias.

Para quem não sabe; dos 27 mil km² do Haiti, 90% é praia; dos quase 10 milhões de habitantes, 80% não tem renda fixa e vive em completo desespero; a média anual de ganho de um haitiano é de R$ 2.250,00; metade da população é analfabeta e de cada 1000 nascidos, 50 morrem nos primeiros dias; estes números tendem a crescer depois desta tragédia e com isso, o que podemos esperar do futuro do povo do Haiti? Nem o Afeganistão, aquele do Talibã, consegue ser mais miserável do que o Haiti, segundo dados da ONU!

É triste afirmar, mas é a verdade; se nada for feito para dar a este povo uma chance de sobrevivência com o mínimo de dignidade, esta tragédia natural será em breve considerada como leve e de pouco efeito e com certeza isso se refletirá em várias nações, inclusive o Brasil!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

Meu site: www.irregular.com.br

Foto: France Press

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 15/01/2010
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