Não é inglês nem japonês

Desde que me conheço por gente vi mamãe fazer bolo. Tinha primeiro que misturar a manteiga com açúcar, colocar as gemas, bater, despejar o leite, bater... Peneirar a farinha com o fermento e ir despejando devagar, para não empelotar. Aí ela batia mais forte, segurando o tigela com a mão esquerda enquanto rodava a direita vigorosamente. Depois juntava as claras em neve, previamente preparadas. Quarenta minutos no forno quente e pronto. Ela dizia que era bolo inglês. Mais tarde descobri que não era nada, bolo inglês leva frutas cristalizadas e o dela não, era o mais simples de todos.

Eu ficava por ali mais sapeando do que ajudando, na verdade esperando para raspar o tigelão. Sempre gostei disso, gosto até hoje. O que não gosto é de bater o bolo na mão. Na batedeira ele fica muito melhor, bem mais fofinho. E não precisamos fazer força, nem colocar tudo naquela ordem.

Prefiro o bolo simples, sem recheio ou cobertura, assado na forma redonda que tem o furo. Além de não apreciar bolos de chocolate, nunca acertei fazê-los. Ficam mirradinhos ou embatumados.

Crianças gostam de bolo e um dia meu filho, ainda pequeno, perguntou por que os meus eram sempre amarelos. Porque não sei fazer bolo verde ou azul, foi minha resposta, que ele aceitou. Mais tarde, depois de experimentar outros, decerto incrementados, na casa de amiguinhos percebeu que a variedade podia ser grande. E toda vez que eu anunciava que havia bolo, ele perguntava: é bolo de quê? Bolo de bolo, ué! eu dizia.

Aí ficou. Aqui em casa só tem bolo de bolo! Não é inglês, japonês, nem da Floresta Negra...