PREFEITA ABSTRATA
O artista plástico Marcos Pinto tentou uma audiência com o cantor Chico César, presidente da Fundação de Cultura de João Pessoa, durante 32 dias. Ele lembrou uma frase de Millôr Fernandes: “substantivo abstrato é tudo aquilo que a gente sabe que existe, mas não pode chegar perto nem tocar, a exemplo de Luiza Brunnet”. Chico César, para ele, seria um substantivo abstrato.
Em Itabaiana, um grupo de animadores culturais, mais desanimados do que acompanhantes de enterro, procuram falar com a prefeita dona Dida há mais de um mês, sem conseguir a glória e a honra de entrar em colóquio com nossa amada e idolatrada prefeita. Ela já está virando um “substantivo abstrato”, pelo menos para os pobres mortais cidadãos desta conceituada cidade de Itabaiana do Norte.
E vejam bem que esses moços e moças não querem pedir nada de pessoal a dona Dida. Não estão em busca de emprego fantasma nem de passagem para o Rio, tampouco querem dinheiro ou qualquer outro favor. Visam apenas propor uma parceria entre a Prefeitura e uma organização não governamental para projetos culturais envolvendo a participação de jovens da periferia, que teriam a chance de se capacitar profissionalmente e promover renda e ocupação para uma parcela de nossa juventude abandonada. Coisa simples, que não demanda grande esforço da gestão pública, mas emperra na hora de conversar, de dialogar com quem de direito.
O projeto é considerado tão estratégico que o próprio Ministério da Cultura aprovou sua versão final. Visa o protagonismo das comunidades e preserva as expressões artísticas regionais. O que falta para a Prefeitura se identificar com o projeto e discutir a parceria? Não temos a solução para o desemprego e o caos social, mas temos a certeza de que isso passa necessariamente pela elevação cultural do nosso povo. Não queremos acreditar que dona Dida não se preocupe com as necessidades básicas da população itabaianense.
No momento em que um grupo de abnegados se extenua no esforço de viabilizar novos reordenamentos na política cultural de Itabaiana, temos esperanças de que a Prefeitura venha a se compor com esse pessoal para uma condução mais prática do projeto “Ponto de Cultura Cantiga de Ninar”. Creio que seja esse um dever do gestor público.
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