O ENGRAXATE FALANTE.
Nesta manhã caminho por linda praça cheia de árvores. Logo as quaresmeiras começarão a florir com seus tons de rosa e roxo. Muitos engraxates ali marcam seu ponto há anos. Eles armam suas cadeiras altas e protegidas por belos guarda-sóis. Oferecem revista, jornal do dia e até um cafezinho de garrafa térmica para entreter seus clientes que são advogados, donos de restaurante e executivos. Dr. Rubens, meu ex-chefe, usava deixar os calçados com um deles e eu passava mais tarde para retirar a sacola.
Para minha surpresa, hoje ao passar por eles percebi um acenando para mim. Era aquele que eu conhecia bem. Olá! quanto tempo que não vejo a senhora, e o Doutor, como vai? Antes mesmo de eu responder, ele olhando para meus sapatos vermelhos notou que a tinta estava clareando em algumas partes. Ah! hoje eu vou prestar meu serviço para a senhora. Vou deixar o seu sapato bem em ordem. Se apoie no meu ombro, põe o pé nesta caixa primeiro e depois se senta na cadeira. Não cai, não. Está bem firme, ela aguenta.
Diante da situação e sem falar nada até então, achei melhor eu subir logo naquele trono. Continuei muda e ele já com todo o cuidado e respeito, retirou meus sapatos e colocou uma lista telefonica para eu apoiar meus pés. Me deu um daqueles jornais populares. O sangue das vítimas do Haiti tingia minhas mãos. Passou um pano úmido num pé e me mostrou toda a sujeira que saiu. Engraxou os dois pés, lustrou, só faltou cuspir no calçado para melhorar o brilho.
Eu somente ouvia e observava tudo. As pessoas que passavam pela calçada olhavam espantadas para mim e davam até uma risadinha. Eu do alto nem me importava. Estava muito engraçada a situação. Ele falava de pessoas que eu nem conhecia e eu muda ali continuava. Daí ele pediu:- Encosta o pezinho aqui senhora para eu lhe calçar o sapato. Viu como ficou bonito?! E não é pra pagar não, eu não quero nada. A senhora merece. A senhora é gente fina. Então já me ofereceu o ombro como apoio para eu descer daquele trono e me lembrando de primeiro pôr o pé naquela caixa de madeira. Na calçada consegui falar alguma coisa que foi:- Muito obrigada. O senhor foi muito gentil.
Para minha surpresa, hoje ao passar por eles percebi um acenando para mim. Era aquele que eu conhecia bem. Olá! quanto tempo que não vejo a senhora, e o Doutor, como vai? Antes mesmo de eu responder, ele olhando para meus sapatos vermelhos notou que a tinta estava clareando em algumas partes. Ah! hoje eu vou prestar meu serviço para a senhora. Vou deixar o seu sapato bem em ordem. Se apoie no meu ombro, põe o pé nesta caixa primeiro e depois se senta na cadeira. Não cai, não. Está bem firme, ela aguenta.
Diante da situação e sem falar nada até então, achei melhor eu subir logo naquele trono. Continuei muda e ele já com todo o cuidado e respeito, retirou meus sapatos e colocou uma lista telefonica para eu apoiar meus pés. Me deu um daqueles jornais populares. O sangue das vítimas do Haiti tingia minhas mãos. Passou um pano úmido num pé e me mostrou toda a sujeira que saiu. Engraxou os dois pés, lustrou, só faltou cuspir no calçado para melhorar o brilho.
Eu somente ouvia e observava tudo. As pessoas que passavam pela calçada olhavam espantadas para mim e davam até uma risadinha. Eu do alto nem me importava. Estava muito engraçada a situação. Ele falava de pessoas que eu nem conhecia e eu muda ali continuava. Daí ele pediu:- Encosta o pezinho aqui senhora para eu lhe calçar o sapato. Viu como ficou bonito?! E não é pra pagar não, eu não quero nada. A senhora merece. A senhora é gente fina. Então já me ofereceu o ombro como apoio para eu descer daquele trono e me lembrando de primeiro pôr o pé naquela caixa de madeira. Na calçada consegui falar alguma coisa que foi:- Muito obrigada. O senhor foi muito gentil.