Saudades da Amélia? Que nada, recuperação para a próxima Rita.
Alexandre Menezes
Certeza! Ao dizer que tinha saudade da Amélia, o desesperado homem, chorava o desaparecimento da Rita que conseguiu emudecer até o violão do abandonado. Já que é para citar compositores, parece o discurso de quem “fala demais por não ter nada a dizer”.
A Rita é o tipo de mulher que qualquer cafajeste um dia se apaixona. Aquela que o faz largar a pobre e maltratada Amélia para viver seu conto urbano. É sobre o sorriso da danada que se comenta, da sacanagem, dos encontros e dos barracos porque, para Amélia encrenqueira, é sempre tapa na orelha da mulher sem vaidade.
Sem a Rita o canalha para de sorrir. Como ela rasga os retratos e destrói os arquivos, triste, ele pensa na maldita o tempo inteiro. Por pura sacanagem a danada ainda quebra todos os cds e leva o computador com todos os seus mp3 e vídeos. Sem poder ouvir o que tinha, passa a escutar o Zezé ou qualquer outro tema para a ocasião nas FMs e só resta uma alternativa: sem dinheiro e sem nada, tentar voltar para a Amélia.
Na maioria das vezes, a boa moça recebe de braços abertos. Aceita ficar sem viagens e quase passar fome. Ajuda a pagar as contas do endividado que gastou tudo que tinha e o que não tinha com aquela que o abandonou e só não levou dinheiro porque as coisas que queria já estavam em seu nome.
Passado o tempo, a imagem da amada não o abandona. Tudo é desculpa para relembrar: uma imagem de santo, um caco de louca, roupa de periguete (antigo trapo) e até o coração que a Amélia pensa que cuida, também está com a Rita. A boa moça sofre até na cama porque, quando não está sendo mal comida, precisa ainda fingir não notar que o amado pensa na outra e, na hora do prazer, o nome dela grita. É certo que mal amada também é!
Com a Rita distante parece que os sonhos do jovem homem também foram embora. Com a Amélia não pensa em conhecer a Europa, uma casa de swing, fazer viagens e passeios fantásticos e não tolera mais os doces enganos da juventude. Resolve então ser um chato e hipócrita pai de família que, provavelmente, levará a mulher e as crianças para conhecerem, juntos com a sogra e parentes, Guarapari, Caldas Novas e Guaibim, sempre numa casa alugada de três quartos para 20 pessoas. No máximo a levará a Campos de Jordão que, geralmente, é lugar para ir com a esposa.
Nos momentos de reflexões, achará que seu fracasso é culpa da Amélia. Afinal, por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher que tenha pulso, ambições, pense em riquezas e no luxo dos hotéis, lugares paradisíacos e lojas de grifes caras. Mais uma vez a bondosa mulher será deixada de lado ou para trás. Saudades da Amélia que nada, recuperação para a próxima Rita. O que se há de fazer?
OBS - Para interagir com o Wilson Pereira resolvi postar um texto que estava guardado e nunca havia sido postado. Caso alguém ainda não o conheça, recomendo a "Amélia" e todas as suas outras histórias. Segue link:
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=58415