Sons da cidadezinha
Desmaia a tarde. Brincam no céu as cores laranja do sol. Escondem-se as formigas no chão. O gato em cima do muro caminha até a casa da vizinha. Passa o vento na amendoeira derrubando as folhas avermelhadas. Na rua já se veem homens em suas bicicletas retornando do trabalho. Ladram cães na rua de baixo desfazendo o silêncio. Algumas das flores do jardim deitam as pétalas.
Chega uma menina toda arrumadinha e senta num banquinho preso a dois paus de madeira fincados no chão na frente da casa. Observa as trepadeiras no muro de cimento. Não há flores ainda. Os ramos verdes e tenros sobem mesmo na adversidade do lugar. Prendem-se às saliências do muro já gasto e antigo. A menina conserva no olhar um sorriso que trouxe de dentro da casa. Cantarola baixinho. “Sapo cururu da beira do rio quando o sapo canta, maninha, cururu tem frio...”
Salta o gato do muro e vem brincar nas pernas dela. Ronrona uns instantes e como não recebe muitos afagos da menina, corre pata detrás da casa. Alguém chega ao portão de tábuas de madeira e chama a menina. É a filha da vizinha. Esta tem os cabelos penteados em rabo de cavalo e seu vestido é de passeio à tardinha.
Na igrejinha, o sino toca para a Ave-Maria. E pela rua seguem as meninas rumo à oração das seis.