Aplausos
APLAUSOS
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 13.01.2010)
“Mas como reconhecer o trabalho de artistas geniais de outrora, que para exercer seu ofício muniram-se simplesmente de suas próprias emoções, de seu próprio corpo? Como manter vivo o nome daqueles que se dedicaram à mais volátil das artes, escrevendo, dirigindo e interpretando obras-primas, que têm a efêmera duração de um ato?”
A preocupação é de José Serra, expressa na apresentação dos livros da "Coleção Aplauso", iniciativa da Imprensa Oficial do Estado que responde às questões levantadas pelo governador de São Paulo.
A história começa em 2004, quando a IOESP lança a coleção e os primeiros títulos chegam ao público por preços bastante atraentes, hoje na faixa dos 15 reais. De acordo com Hubert Alquéres, diretor-presidente da Imprensa, o objetivo é “resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão”. Escritores “com largo currículo em jornalismo cultural” foram chamados para executar esse trabalho, apoiado por enorme e valiosa iconografia e que compreende, também, o texto de muitas peças teatrais (algumas de 2009) e roteiros comentados de filmes (incluindo obras que acabam de chegar às locadoras). Os livros são bonitos.
A novidade é que, desde os derradeiros dias do ano passado, a série está disponível na Internet, no endereço aplauso.imprensaoficial.com.br: são 176 livros para serem lidos absolutamente de graça, num formato em que a mudança da página digital simula o virar de uma folha de papel. Desse acervo, 159 títulos podem ser baixados para leitura posterior, com o computador desconectado: também gratuitamente, sem qualquer constrangimento. Para quem quer ir além do nome do personagem na telenovela do momento, eis aí uma fonte riquíssima sobre o trabalho sério de atores com intensa carreira no cinema e no teatro.
Só essa coleção já comprova que é possível fazer Cultura de qualidade com recursos públicos, abrindo seu conteúdo à sociedade. Aplausos, pois, a quem idealizou e executou o projeto.
Por fim, registre-se e aplauda-se a constatação do presidente da Imprensa Oficial de São Paulo: “São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país.”
(Amilcar Neves é escritor de ficção e autor, entre outros, do livro "Pai sem Computador", novela juvenil, Atual Editora, São Paulo)