PRIMEIRO ATO
Chover no molhado é o mesmo que repetir uma cantilena. É rezar uma ladainha. Muitas vezes, conversa para boi dormir. Aceita-se como promessa de candidato. Já foi chamado de arengueiro? Sabe o que é uma toada? Pois em 2010 tudo vai ser diferente, queiram ou não acreditar os céticos. Queiram ou não os indiferentes. A promessa é minha. Uma risada - E daí? - O que me importa? Poderia dizer qualquer um que não goste de mim ou não acredite mais nos meus intentos. Mas, vai ser diferente. A começar pelo ano que é eleitoral. E de quebra, de copa do mundo também. Então temos uma dupla chance do engodo. É o ano do circo e circo. O pão vai continuar tendo que ser batalhado a duras penas, ou melhor, conquistado com o suor dos rostos, para ser acreditado de forma mais sagrada. E vamos, na esperança de que estamos dando uma mudada profunda no cenário nacional, eleger outras caras. Aquelas que estavam fantasiadas desde outros carnavais.
“Não sou candidato a nada, meu negócio é madrugada, mas meu coração não se conforma.” Esse verso do João Bosco cai bem na minha condição atual, exceto que na madrugada do poeta, o ritmo é sugestivo de balada. O meu está mais para reflexão, leitura, café e escrita. Mas é bom encontrá-los, mesmo que não estejam sóbrios. Sua tontura é sempre melhor do que qualquer sisudez de gente que não descambou de vez ainda para a poesia.
A minha militância vai continuar seguindo com o traseiro na cadeira. Nas ruas não encontro mais ecos de gente que quer mudar alguma coisa a não ser o próprio visual ou o dos edifícios através dos vandalismos. Solenemente, no entanto, aviso que não arredo pé dos sonhos. Continuo correndo os riscos que sempre corri ao sonhar, quando empreendi atos para a sua realização. Ser ou não ser feliz era a questão. Ao longo da trajetória a gente vai reformulando e hoje me contento se acumular alegrias mais que desatinos. A fé que me guia está enraizada no pensamento até os poucos fios de cabelo que me restam. E vou. E chamo quem queira caminhar por ai pensando enquanto o tempo passa. A gente vai colocando nele substâncias que for colhendo pelo caminho.
Todo esforço das pessoas do bem continuará valendo a pena como sempre em termos de manutenção das esperanças.