O Dilema de Amar, ou Apaixonar

O Dilema de Amar, ou Apaixonar

Luiz Pádua

Amar ou apaixonar, eis a questão. Nem sempre podemos afirmar que as situações que se nos apresentam quando estamos amando, ou mesmo apaixonados por alguém, correspondem a realidade. Por outro lado, não é tão fácil distinguir a diferença entre amar e apaixonar.

Há que se separar as duas questões e analisá-las na profundidade que os temas exigem, para não se confundir o amor com paixão, pelas diferentes situações que nos apresentam.

Vamos considerar o amor, através de uma definição mais coerente que poderá ser a seguinte: “viva afeição que nos impele para o objeto de nossa afeição, ou simplesmente, paixão ou afeto”.

Hoje, a palavra “amor” tornou-se objeto de banalidade na boca de qualquer criança ou adolescente, talvez por ser a palavra, simples de pronunciar, ou então porque o amor costuma ser bastante badalado nos meios adolescentes.

Na verdade, o que ocorre com essas crianças, não é nada mais que o despertar da sua sexualidade. O que pode existir de fato é o total desconhecimento do que seja amor verdadeiro, por não entenderem o que realmente ele representa.

Crianças de ambos os sexos, enfatizando a faixa de doze a dezesseis anos adoram exclamar ou anunciar a quatro ventos amor a alguém. Os muros de escolas ou mesmo do bairro onde moram geralmente estão pichados com as frases: “fulana, eu te amo” ou, “eu amo fulano ou fulana”. O amor para eles quer dizer início de um namoro que, até então desconheciam o prazer de estar namorando.

O fato de “amar” alguém, quer dizer que possivelmente esteja havendo entre duas pessoas do sexo oposto, uma atração recíproca motivada pela coincidência da aproximação de entendimentos mútuos de afeição e amizade, mas possivelmente o amor pode não estar presente. Ninguém ama por amar, ou deixa de amar porque já não ama mais. Há que se acrescentar que, tanto o homem como a mulher, constantemente trocam a pessoa “amada”. Vejam que interessante: hoje, estão amando fulano ou fulana, amanhã já é outro ou outra e assim por diante. Até que um dia chega-se às núpcias, mas até lá, já amaram muitos outros, ou muitas outras, cujo número talvez ultrapasse a linha do imaginável.

Então, chegamos à conclusão lógica de que o amor que tanto se comenta, pode ser momentâneo e não eterno, como se supõe.

A frase “fiz amor com fulano ou fulana” é bastante usada não só pelos adolescentes como também por adultos.

Ora, o sexo é conseqüência do amor, e portanto, não se faz. Já o amor não se faz, ele é espontâneo com reflexos na alma; é inefável; uma misteriosa afeição de carinho e amizade; um sentimento abstrato e subjuntivo próprio de cada ser humano. Não se pode simplesmente confundir o sexo, com o jeito gostoso de estar junto com a pessoa pela qual sente-se a afinidade do amor. Portanto, a frase “fiz amor ou fazer amor”, não procede.

Entretanto, na nossa concepção o amor é momentâneo e chega quase a não existir de fato, a não ser o amor de mãe, assim mesmo quando ela, mãe biológica, tenha criado o filho desde pequeno. Caso contrário achamos muito difícil a existência do amor entre mãe e filho; é complicado, mas é a realidade.

Na verdade, o que mais existe de efetivo em um casal são interesses sexuais motivados pela atração da química. No momento em que essa atração deixa de existir, fatalmente o amor do casal também chega ao seu final. Daí, a separação é um fato consagrado e efetivo, cada um tenta buscar outra pessoa para “amar”, numa demonstração óbvia que o amor verdadeiro inexistia entre os dois.

Entendemos que o amor nasce espontaneamente do fundo do âmago. É claro que pelo que ele significa entre os seres humanos, não se concebe que repentinamente alguém deixe de amar a pessoa que até pouco tempo era o amor de sua vida. Então diriamos que entre eles existia tão somente um amor momentâneo e não um amor verdadeiro; uma espécie de paixão;.

É muito normal acontecer entre duas pessoas, uma afeição motivada pela química e confundirem-se com amor, o que não é a mesma coisa.

No entanto, com o evento do casamento, toda aquela ilusão se esvai como por um passe de mágica, motivada pelo início de uma nova vida. Geralmente é comum ocorrer um esfriamento natural entre o casal e, aquele amor que tanto juraram vai se dissipando pouco a pouco sem que eles se percebam.

Ao contrário do que muitos pensam, as núpcias entre o casal é o ápice do romance entre os dois, no entanto é daí que se inicia a fase do declínio permanente.

Consideramos errado o fato de entender que o casamento é a concretização de um amor vivido pelo casal, pelo contrário, o namoro é a fase mais gostosa de um relacionamento amoroso. O fato do casal viver dia após dia numa rotina constante, contribui bastante para a extinção do amor no casamento. Chega a ser engraçado, mas é uma verdade que poucos percebem.

Mas o sexo já não satisfaz mais. Dificilmente a atração sexual entre o casal tenha uma longa duração, porque o amor que existia entre os dois, acaba se transformando em amizade, ou em amor fraternal. Tal fato deve-se ao total desconhecimento dos cônjuges em saber o que seja um amor verdadeiro.

Neste contexto, vemos que com o decorrer do tempo a rotina sexual entre os dois acaba assumindo a forma de sexo obrigatório e não sexo por prazer.

No mesmo sentido citamos o amor; É difícil, ou quase impossível distinguir um amor verdadeiro do amor casual. Amar não pode ser uma obrigação, porque é o sentimento mais puro do nosso ego, é a introspecção da alma, ele é espontâneo, natural é eterno. Ninguém pode amar por amar, há que se extrair de si tudo o que é de melhor para oferecer à pessoa amada. Entretanto, para haver amor é essencial a existência da reciprocidade. Ninguém ama alguém sem a recíproca e é nesse sentido que surge a confusão do amor com a paixão, porque sem a recíproca, dificilmente poderá existir amor. O respeito, bem como a confiança entre o casal contribui bastante para que o amor que existe entre ele não se extingue.

No decorrer do tempo, o relacionamento sexual do casal já não é a mesma coisa torna-se cansativo, tanto o homem como a mulher, ao aproximar a hora de dormir chega ao ponto de “rezar” para que o cônjuge não procure o sexo rotineiro. Por isso, sempre acontece a velha desculpa: “hoje estou com dor de cabeça”, ou então, “estou muito cansado ou cansada” e vai por ai afora.

Essa é a fase mais perigosa do casamento. Na eventualidade de continuarem juntos é porque fizeram juras de amor eterno no casamento e ouviram o padre ou o Juiz pronunciar: “até que a morte os separe”.

Há que se subentender que, “até que a morte os separe” pode ser a separação do amor, da compreensão e do carinho, não pelo óbito de um dos cônjuges, mas a morte do amor entre o casal. Entretanto, os casamenteiros, por motivos óbvios, não explicam esse detalhe aos noivos, talvez até por ignorância ou por interesses subjetivos.

Consideramos que essa é a falha imperdoável do casamento, principalmente quando se descobre que a sociedade conjugal não proporciona mais felicidade ao casal que, ao deparar com o fato de que tudo o que existia entre os dois já não existe mais. Então, a solução ideal e de bom senso é a separação de corpos para não sofrerem até o final da vida.

Na verdade, tanto o marido como a mulher, certamente gostariam de estar com outra pessoa que não o seu parceiro. A vontade de amar é constante e natural. Dentro deles ainda existem as chamas de um vulcão prestes a explodir, porém, por força das circunstâncias, ele fica contido nas entranhas de cada um prensado pelas condições subjetivas, mas nunca se apaga.

É quando a vida torna-se um tormento para os dois. No entanto, continuam vivendo juntos porque nem sempre o casal tem condições para reiniciar uma nova vida de solteiro, motivado por circunstâncias desfavoráveis, ou a inacção ao reinício de uma nova vida. Alguns são mais resignados e deixam-se levar pelo vento, vivendo como irmãos, “até que a morte os separe”.

Então diriamos que o amor entre os casais, depois de um certo período chega quase a não existir, a não ser uma boa amizade, quando convivem amigavelmente sem os costumeiros desentendimentos, muito comuns entre casais.

Claro que, se existisse o amor verdadeiro entre o casal, a convivência seria de eterna felicidade, porque amor expressa afeição e disposição de fazer pela pessoa, tudo o que estiver ao seu alcance. Mas, infelizmente esse amor é raríssimo ou talvez possa existir apenas nas telas cinematográficas, ou nas novelas de televisão.

Muita gente diz por ai: “fulano e fulana vivem bem há muito tempo. “É uma gracinha esse casal”. Só que ninguém sabe o que de fato ocorre entre eles na intimidade do lar. Esse casal talvez viva aos trancos e barrancos e não se separa por motivos financeiros, ou porque a sua religião diz que é pecado separar o que Deus uniu.

Ai eu pergunto: “Foi Deus quem uniu o casal”? Ora, isso é pura balela. Quem os uniu na verdade foram eles próprios, por sua livre e espontânea vontade e sacramentada pelo Padre ou o Pastor de alguma Igreja, que é uma pessoa normal igual a nós mesmos. Sendo Deus quem abençoou a união do casal que não deu certo, Ele estava certo ou errado? Ora, se Deus os tivesse unido, evidentemente, Ele escolheria com sabedoria o par certo e conveniente para a convivência matrimonial. Só uma perguntinha indiscreta: Deus erra, ou não? Deus não pode errar. Que desculpem-nos os religiosos; “tudo isso é conversa para fazer jus ao dinheiro cobrado”.

Não podemos nos deixar levar por enganações. Vamos tirar a venda dos olhos e encarar a realidade da vida, porque é melhor viver enxergando a realidade, do que viver sob uma neblina espessa de mentiras e enganações.

Neste contexto, acho que seria melhor se preparar para enfrentar esses dilemas que certamente ocorrem na vida de qualquer um. “O melhor remédio para a picada da Cascavel é “não se deixar picar”.

Por que procurar problemas se eles estão por toda a parte? Queira ou não, a cada dia que passa surge um novo caso intricado no nosso caminho. Então o melhor a fazer é olhar onde vamos pisar para que não sejamos picados por alguma cobra venenosa.

Paixão

Por outro lado, temos a paixão. Definir a paixão é bem mais simples; diríamos que a paixão é um ”vício dominador”. Um sentimento excessivo, ou um afeto violento. Ela vem e vai num piscar de olhos.

Podemos comparar a paixão com um amontoado de jornal que, ao se riscar um fósforo, inevitavelmente acontecerá uma enorme labareda, mas certamente durará pouquíssimo tempo. É uma espécie de um amor denominador, repentino e perigoso.

A paixão é uma espécie de loucura por alguém que chega a gostar excessivamente de alguém, mas de um momento para outro deixa de gostar. Então não é amor verdadeiro, porque o amor é inefável, bem diverso da paixão. A bem da verdade, pode-se dizer que a porcentagem de um casal que se ama de verdade é simplesmente ínfima, e não se trata de exagero quando afirmamos que não ultrapassa dois por cento dos casais que têm amor autêntico e puro.

Noventa e oito por cento dos casais que permanecem unidos por muito tempo, não quer dizer que se amam, vivem juntos exclusivamente por motivos alheiros à sua vontade, ou por interesses recíprocos.

Se de um lado alguém ama exageradamente alguém e este alguém gosta do outro apenas porque ele demonstra o seu amor, diriamos também que não se trata de amor verdadeiro. Seria uma mescla de amor e paixão sem futuro. Ora, se de um lado existe o amor e do outro, apenas a paixão, indubitavelmente a tendência desse casal é a separação, visto que o casal não se ama verdadeiramente na mesma proporção.

Então o que certamente vai acontecer: o amor da parte que ama verdadeiramente a outra, vai se murchando até tornar-se apenas em amizade, isso quando não há rixas entre o casal.

Paixão é uma espécie de loucura por alguém e não ser correspondido aos seus loucos ímpetos apaixonados, o final poderá até ser desastroso. Por outro lado, se essa paixão for correspondida perde-se a graça e, em pouco tempo desaparece a paixão. Por que? Simplesmente porque o ser humano gosta das coisas difíceis e, no momento em que se tornar fácil, perde-se a ilusão e, conseqüentemente a paixão desaparece.

Há um costume exagerado de confundir a paixão com amor, mas há uma diferença grande entre um e outro caso.

A cada dia que passa surge um novo caso intricado no nosso caminho. Então o melhor a fazer, é olhar onde vamos pisar para que não sejamos picados por alguma cobra venenosa.

Luiz Pádua
Enviado por Luiz Pádua em 12/01/2010
Reeditado em 28/11/2010
Código do texto: T2026174