Celebração dos “61”
Celebração dos “61”
Para aqueles que não são escritores profissionais, que é o nosso caso, as idéias não jorram em cascatas e escrever torna-se agricultura em solo árido.
Para compensar, somos favorecidos pela sorte, que nos traz fatos e material, sobre os quais não podemos perder a chance de registrá-los e compartilhá-los.
Fui ao aniversário da mulher de Joseph, excelente companheiro, austríaco e radicado há muito em São Paulo.
Fui compelido por imensa admiração ao casal e grande gratidão ao Joseph, pois me ajudou demais no início da carreira profissional.
Estou preconceituoso a aniversários de crianças e dos que já passaram dos sessenta.
Os primeiros por não ter mais a empolgação de quando os filhos eram pequeninos; e os segundos por ter convicção de que o papo vai girar em torno de doenças e desencarnações.
Estava numa fase, que poderíamos denominar de férias compulsórias da atividade prazerosa de escrever. As idéias haviam decidido desaparecer e, sem elas nada acontece. A mudez do teclado e a gozação da brancura total da página de texto são anunciadoras da ausência de “estalos mentais”.
Mal sabia que a sorte, mais uma vez, compensaria a “ausência mental”, trazendo-me, não só o encantamento do amor, mas, também, um texto de confirmação desse encantamento.
Foi festa de “arromba”: quitutes e tortas da melhor qualidade; sucos e vinhos bem tratados por taças e copos de cristal; pouca conversa, pois a música, escolhida com muita sensibilidade, derramava melodias imortais sobre nós, mortais “gourmets”.
Aquele delicioso momento foi rompido com o desligar do som e por coral de amigas da aniversariante, convocando a todos para cantar o tradicional “parabéns para você”.
Encerrado os parabéns, Johanna, mulher de Joseph, agradeceu o carinho e pediu a atenção de todos.
Disse-nos que nos queria retribuir o carinho e as lembranças recebidas com a leitura do bilhete de amor do maridão.
Senti que a timidez do Joseph fora surpreendida pelos impulsos de alegria da mulher, que sem maiores delongas iniciou a leitura:
Adorável Johanna,
todos queremos do fundo do coração a repetição desta data por muitos anos e sempre te encontrando forte como ursa e doce como o mel que a alimenta.
Todo ano repito que tua festa tinha que ser alguma coisa espetacular.
Acredito, que apesar de não ter sinfonias clássicas, andares graciosos de pingüins, flores, muito verde, beija-flores fazendo “pussi-pussi” nos brancos rebeldes dos teus cabelos, que teimam em desfazer as pinturas. Apesar de não existir um brilhante pintor para tentar reproduzir a beleza da tua alma, ou não ter um grande poeta e reconhecido compositor para pintar com palavras e sons a beleza do teu caráter.
Apesar disso, que merecerias para celebrar teu nascer, tenho certeza que terás uma festa maravilhosa, pois terás presentes: meu amor sentinela; o carinho dos filhos; e a presença solidária dos amigos.
Além disso, as plantas e flores, para retribuir o carinho e dedicação dos teus cuidados, far-se-ão muito mais belas, para chamar atenção do azul irreproduzível do teu olhar.
Parabéns e beijos de todos os que sabem manter o privilégio de fazer parte da órbita do teu coração.
Joseph
“Hanni 61!” São rimas e melodia reveladoras da admiração por algumas das tonalidades do colorido da alma da mulher amada. Só a beleza desse colorido pode transformar simples parceiros em “poetas varridos”.
Hanni 61!
Juras, nenhuma quebraste;
Ousaste por distantes caminhos;
Histórias para ninar contaste;
Amamentaste lábios indefesos.
Noites em vigília passaste;
No teu silêncio, velaste sonhos;
As diferenças harmonizaste.
Severa com o falso e ardiloso;
Estética, como todos de Touro;
Solidária no riso e no choro;
Sutil no zelo de um segredo.
Encantada com os cantos da natureza;
Nas noites sem nuvens e sem lua
Tateia o céu a procura das Pleiades.
Altiva e tímida como virgem nua.
Equilibrada no que sente, pensa e quer.
Uma sinfonia de carinho festeja:
Maria de batismo, e 61 anos de mulher,
Maria de batismo, e 61 anos de mulher.