AO "SENHOR -DO- BOM -FIM" O NOSSO DUO SENTIMENTO PER...AMBULANTE...
Uma das trocas interpessoais mais fabulosas da vida da gente se dá quando, nas nossas perambulantes viagens pelos diversos lugares do mundo, conhecemos pessoas de culturas diferentes, posto que a diversidade humana muito nos enriquece.
"Mundo" é o meu modo de dizer, porque na verdade o vasto mundo sempre está logo ali, descortinado um pouco adiante de nós, sob nossos olhos espertos, portanto não é preciso que caminhemos muito para a gratificante recompensa.
E numa dessas minhas recentes oportunidades de sair de São Paulo para uma bela e conhecida praia do nordeste brasileiro, um fato muito curioso me motivou esta minha escrita.
Ele trabalhava por ali, caminhando com seus produtos artesanais naquela "muvucada" rua de paralelepípedos dum point famoso do nordeste, conhecido por muitos estrangeiros.
E obviamente que alguns lugares turísticos nos encantam os olhos, e, principalmente falando por mim, eu logo reporto o pensamento aos gerentes dos locais, tão talentosos, que nas vitrines turísticas sempre nos mostram maravilhas de gerenciamento, posto que nem sempre nos há tempo suficiente para analisarmos as condições reais de vida dos diversos entornos.
Embalada nesse pensamento, eu me sentei por ali, na calçada dum café a pedir por uma água de coco gelada, quando ele de mim se aproximou a praticamente ler o meu pensamento.
Ofereceu-me um de seus produtos feitos num tear manual, e logo engatamos uma conversa. Enquanto eu observava o artesanato,
fiz-lhe algumas perguntas, elogiei o seu trabalho artístico, e ele me disse que nascera naquela praia há quarenta e quatro anos.
Admirei a beleza da sua terra e em especial a daquele tão belo micro espaço, dum paisagismo tão caprichoso, comentamos sobre as perspectivas do ano que nascera há pouco, e também lhe perguntei se as vendas estavam boas...
Foi quando me surpreendi com a sua fala que espelhava o meu sentimento, a qual transcreverei na íntegra: "Sabe dona, o que a senhora vê por aqui é só uma pequena fantasia. Às vezes tenho vontade de fotografar o que vejo por aí e mandar pro jornal. Tudo abandonado, dona! Mas eu taria aniquilado, porque por cá todo mundo se conhece. É como aconteceu lá, não viu não, dona? Tem cinco dias que não durmo com a tragédia do pessoal lá de Angra, dá dó de ver dona!"
Nesse momento percebi nitidamente seus olhos lacrimejarem de forte sentimento, porém ele continuou emocionado...
"E sabe dona, na passagem do ano rezei para o "Senhor- do- Bom-" Fim para que a vida de todos melhore pras banda de cá e de lá...as vendas não são fáceis, a vida é dura, nóis daqui depende tudo dos gringo."
Ali eu pensei muito, e me admirei como o sentimento "político" que, sem pedir licença, igualmente permeia o coração de todos, mesmo o do homem ambulante mais simples, porém não menos nobre, que perambula como qualquer um de nós pelas praias da vida, para garantir a árdua sobrevivência na reentrada dos novos tempos.
Era quase seis da tarde, sem fuso de verão, e o sol queimava a nossa pele com a força dos raios do meio dia!
Ofereci ao nobre homem uma água de coco e dele adquiri um produto artesanal.
Sorveu a água como quem se sorvia de vida, e dali saiu agradecido deixando transparecer a alegria de quem havia feito a primeira venda do dia...