A empregada surda (6 da série Meu Blog)

A moça que trabalhou em casa um mês ou dois tinha um probleminha: por causa de uma doença, ficou surda aos treze anos. Falava, embora a gente não entendesse direito. Mas sabia ler e escrever, mais ou menos. Então arranjei um caderno e nos comunicávamos por bilhetes. Antes de sair, de manhã, eu deixava por escrito minhas recomendações. Na volta, ela me estendia o caderno com certas reclamações... E assim foi.

Um dia, deixei recomendado que ela fizesse arroz de forno para o almoço. Mais nada. Lá no armário e na geladeira ela encontraria todos os ingredientes (os mesmos daquele meu famoso... ervilhas, milho, azeitona, queijo, presunto...).

Quando cheguei com as crianças, passada a uma hora da tarde e eles morrendo de fome, não encontrei a moça em casa. Não estava na cozinha, na sala, nem no banheiro. Corri para o fogão, pensando em dois tempos esse arroz esquenta. Ao abrir o forno, porém... surprise!

...O que vi lá dentro foi o nosso CADERNO DE RECADOS, aberto!

E nele estava escrito com letras garranchadas: “Não fiz o arroz que a senhora pediu porque arroz de forno não tem gosto de nada. Vou embora mais cedo hoje.”

E só não acrescentou ‘Fui’, porque naquela época ainda não era moda...