Cozinhar, lavar, passar, varrer...
Li, recentemente, interessante artigo de autoria de Marília Novais da Mata Machado, belo-horizontina doutora pela Universidade de Paris, em que destaca paradoxo na luta feminista: “à medida que (...) [a mulher] se torna auto-suficiente, mais ela se aproxima do fracasso, presa na teia de sua incapacidade de obter ajuda, tão senhora de si parece ser.”
Os tempos estão mudando. Nota-se, de forma discreta, movimento contrário ao “women’s Lib”, que feministas de sovaco cabeludo e barba por fazer defendiam, portando estandartes pelas ruas movimentadas das capitais européias e norte-americanas. Os problemas e reivindicações daquelas mulheres são bem diferentes dos elencados pelas brasileiras.
Talvez em razão dessa constatação, as mulheres tupiniquins vêm chegando à conclusão de que a denominada libertação feminina está, na realidade, as escravizando, porquanto continuam com as tarefas domésticas antigas e mais as novas, ombreando com os homens no concorrido mercado de trabalho, que as estressam e nelas vêm provocando doenças coronarianas.
Digo isso porque a crônica que escrevi, intitulada “Prosaicas academias”- atestando que antes as mulheres tinham os corpos naturalmente torneados nas academias domésticas, socando pilão, atalhando frango, lavando e passando roupa, encerando o piso, vasculhando tetos e retirando água de cisternas – não teve a reação irada que eu esperava do público feminino. Claro que sabia ser o tema bastante polêmico e, por isso, fiz intróito preparando o espírito daquelas que pudessem se insurgir contra mim, nesse pantanoso terreno.
Com efeito, a leitora e amiga Carmem Lúcia Antunes Marques, de Montes Claros, mandou-me comentário que de certa forma tranqüilizou-me, na medida em que dizia haver eu conseguido “falar de tema tão ‘contraditório’ sem que nos sintamos ofendidas com o “machismo entre linhas...”. Além disso, concordou comigo, afirmando que “antes ‘a gente era feliz e não sabia...’ Tínhamos o exemplo de nossas mães, avós e tias, que não viveram esse culto a beleza nas academias de hoje! Eu sou suspeita pra falar, porque detesto... ufa!! Mas ainda não fiz da caminhada um hábito. Gostei, mas vai ter gente contra isso. Isso vai!! “.
De São Paulo – SP, recebi outro comentário, da escritora Santiago, colega do site “Autores.com”, que considerou a crônica “muito boa” e ratificou ser “pura verdade que assim era há alguns anos atrás”, mas pondera ser “agora melhor”. E finaliza: “E quanto aos homens pedalarem a nova engenhoca [uma bicicleta com dínamo, que carrega bateria e permite assistir às novelas com a energia acumulada; e a bicilavadora, que funciona à base de pedaladas em bicicleta sem rodas] é uma maravilha. Pelo menos não vão ficar sentados nas poltronas pedindo cervejinha e petisquinhos pra assistirem a chatice do futebol.”
O único homem a manifestar-se foi Fernando Giomo, de Campinas-SP, que considerou o texto “muito bom” e concluiu: “Vê-se que você conhece do riscado, do presente e do passado”.
Agora, o que mais me tranqüilizou nesse ensaio foi a leitura de uma entrevista na revista VEJA, de 4.11.2009 – quinze dias após a publicação da minha crônica. Nela, a repórter Sandra Brasil conversa com a paranaense Kesiah Visioli, 33 anos, casada, mãe de um menino de 5 anos, eleita “a dona de casa mais bonita do Brasil”em um concurso de TV.
Perguntada como consegue “manter esse corpão”, Kesiah respondeu sem vacilar: “Meu único exercício é trabalhar em casa: cozinho, lavo, passo roupa e varro. Faço tudo sozinha.”
Mas, para que não me rotulem de machista – ou macho chauvinista -, o que vale para as mulheres prevalece também para os homens, que estamos cada vez mais obesos.
E como as mulheres reclamam por fazerem tudo sozinhas, por que não dividir com elas certas tarefas domésticas? Principalmente as mais pesadas, para tornear nossos bíceps e tríceps? Eu fico com o socar pilão e tirar água da cisterna...