HOMEM MIJA DE PÉ
Sempre ouvi falar da importância do joelho e da sua sensibilidade ao mais leve choque com um objeto ou móvel. Todo mortal já deve ter sentido na pele, aliás no osso, aquela terrível dor resultante do choque do joelho com o criado mudo, cadeira, gaveta, cama ou outro corpo fixo e duro qualquer.
A importância desse segmento da nossa anatomia, o joelho, pode ser constatada ao longo da história e da cultura humana. Imaginem quantos súditos não tiveram que pagar, até com a vida, por não poderem se ajoelhar diante do soberano. E o que teria sido da Igreja de Roma se tantos beatos e fervorosas beatas, não pudessem fazer a genuflexão diante do Cristo na cruz para perpetuar a crença no Deus todo poderoso e para honra e glória do alto clero e dos papas.
Nos anos sessenta e setenta foi maravilhoso para muitos rapazes como eu, ver com o advento da mini-saia, lindos joelhos seguidos de pares ainda mais lindos de coxas femininas. Para a cultura da época, ainda não atingida pela avassaladora transformação nos valores e costumes que cá entre nós ganhou força nos anos setenta, o frenesi era bom demais. Hoje, troncos, cinturas e pernas abundam nas ruas, praças, dentro e fora das casas.
Agora, e a nossa locomoção cotidiana, o constante agachar-se e levantar-se, bem como o ato de sentar, dobrar a perna e se encolher para dormir numa noite fria? O que seria da nossa vida sem o joelho?
E o que faz da vida um cidadão com o joelho constantemente inflamado, impedindo-o de realizar os movimentos básicos como aqueles que a saudável prática sexual requer?
Na atividade sexual e nas necessidades mais íntimas é o joelho que comanda tudo. As inflexões e os movimentos. A variação de posições. Não dá para imaginar um orgasmo final sem o apoio e a participação do joelho.
Bem o futebol me deixou um certo período com o joelho sensível devido a um rompimento no ligamento cruzado anterior da perna direita. Nada que me causasse abstinência. Mas depois, com a cirurgia e a conseqüente imobilização da coxa ao tornozelo, passei por momentos difíceis. Primeiro, pela terrível dor pós-cirúrgica. Depois por ficar com a “perna dura” por sete dias e com os movimentos extremamente limitados por outros tantos dias devido ao inchaço e contração dos músculos.
Alguns dias no hospital do servidor público municipal, e outros em casa, tive que fazer xixi naquele troço chamado de papagaio. Evacuar na comadre, nem pensar. Além do jejum da véspera da cirurgia, fiz um jejum programado e só evacuei em casa, quatro dias após a cirurgia. De qualquer forma quando pude ir ao banheiro, tive que ficar de perna esticada. Experimente urinar ou defecar, com dor e uma perna esticada. Só passando pela experiência para saber o que é isso.
Depois, sem o gesso, sem os pontos e principalmente sem a dor, já deu para me escorar, saltitar, me arrastar com a perna esquerda e me locomover pela casa com a cadeira de rodas.
A enorme cicatriz de muitos pontos, inclusive acima do joelho para retirada do tecido para reconstrução do ligamento, não me preocupa. Mas, os longos sessenta dias de licença médica e os trinta primeiros, sem por o pé direito no chão. Depois, apesar de ficar com a perna esquerda encostada no vaso e o pé direito ligeiramente apoiado no esquerdo, numa autêntica posição de bicha parado na esquina, me sinto um homem perfeito: já posso mijar de pé!!!
E o sexo na sua plenitude? Como tudo na vida, é uma questão de tempo. Por enquanto, hidromassagem, fisioterapia, mãos à obra e muita imaginação.