É F... OU É MODA?

- É F... OU É MODA?

Vovó, por inúmeras vezes, já o admoestara:

--- Janus, isso aqui é casa de família, meu filho!

Janus não tinha jeito. Em dez palavras que dizia, uma havia de ser “foda”. Isso para vovó soava como um sacrilégio no refúgio sagrado do lar. Antigamente, diziam-na pessoas desqualificadas, indecentes, causando rubor nas pessoas de bem.

--- Tá certo, vovó! Batia na boca, penitenciando-se.

Mas Janus sempre estava de volta com a sua “foda”, e vovó continuava fula com o cara:

--- ... não vê as meninas crescendo? Que exemplo!

--- Não vai acontecer mais, vovó! Prometo! Tal o costume.

--- Já que está de saída, recomendou-o, passe na Flora e dê uma forcinha. Ela e o Alex foram aos tapas novamente.

E ele:

--- De novo!? Aqueles dois é foda!

E vovó balançava a cabeça protestando:

--- Incorrigível! Você não tem jeito mesmo!

--- Tá! Tá! Bateu na boca e saiu aborrecido.

Mas Janus não tinha caminho de volta. Diferente dos demais mortais, Janus levava a crer ter vindo ao mundo com esse determinado pecado original. E quem poderia, em sã consciência, afirmar que a primeira palavra dita por ele fosse “papá” ou “mamá”, e não o calão estropiado?

Decorrido o tempo, a expressão aderiu de tal forma ao seu ego/superego, permanecendo constantemente acesa, insinuando-se para qualquer vocalização do rapaz. Ao sair, lembrou do recado da avó, levando-o a pensar na velhinha impertinente:

“A vovó é foda!”

P.S. Este texto, escrevi-o após a leitura da crônica de 31/10/2009, “Conceitos Básicos da Expressão “Fudido””, de nossa colega Cícera Maria, a qual parabenizo pelo brilhantismo da exposição, sugerindo aos demais colegas do RL que não tiveram a oportunidade de lê-la, que o faça.