Próximo Natal
Um costumeiro pensamentar que não sabia de onde vinha o fez acender um cigarro apenas por fumar e tentar imaginar uma história qualquer que não fosse a sua. No escritório lembrava o que havia conquistado e fortemente verdadeiro não se importava com isso, também não questionava nada além do que não fosse concreto.
Estava perturbado, já fazia ano e meio do término e o vazio ainda não fora preenchido. Marcos sabia, no fundo seria difícil esquecer uma mulher tão completa. Ao menos não precisava atuar, tinha o que falar e as opiniões eram sempre retrucadas pela inteligência ligeira do que ela possuía como ninguém. Agora tinha que se conter com “mulheres objetos” que no máximo satisfaziam seus hormônios e no final tinha a impressão que não valera a pena.
Rabiscou um email para Marta. Por ironia ou mesmo força do destino, tudo que ele havia escrito foi enviado antes dele ter a certeza que queria dizer tais coisas. O frio lhe subia ao imaginá-la lendo um monte de besteiras rabiscadas por um fio de teia para representar o passado, tantas vezes questionados e já sem motivação nenhuma para recomeçar.
Tudo era confuso. Por minuto Marcos abria sua caixa de mensagem. Nada. Acabou o expediente de cabeça baixa e caiu numa profunda insônia, o arrependimento doía como atropelo de mil cavalos. Pudera; já devia ter esquecido. Claro! Ela já devia amar outro, afinal para uma mulher esquecer cinco anos de planos compartilhados era no mínimo bem mais fácil que para ele.
A semana passou lenta como a espera de um resultado importante. Ele tentava em vão não lembrar do que aconteceu; trabalhava até mais tarde, conversava com amigos e até arriscava umas paqueras sem graça e sem maiores conseqüências. No oitavo dia abriu a caixa de mensagem sem a esperança anterior de resposta, mas para sua surpresa Marta havia respostado, como de costume, pela necessidade de concluir um assunto.
“De vez em quando ainda paro e penso em ti. São pensamentos mergulhados na ingratidão do que podíamos ser e não somos. Os dados do destino contradizem o meu querer. Nossas ruas se bifurcaram rapidamente como vultos de carros velozes que iluminam a cidade fantasma e deixam a desejar suas identidades. Repentinamente ficamos sós com a multidão, perdidos na ilusão das noites de festas, dos beijos cedidos sem amor e por manutenção do ego”. Daí ele fez uma pausa dramática. Então ela havia beijado muitos outros, isso lhe doía apesar de saber que tinha feito o mesmo. “Sinto orgulho de nossas decisões; livres como crianças abandonadas nas ruas pela sociedade cruel. Não sinto mais tua boca. Soube dos teus casos. Tua beleza já não me parece tão perfeita. Meu colo não é mais teu aconchego e teu nome não mais ilumina a deixa de nossa antiga promessa. Está apagada esperando o próximo Natal...”
Marcos não sabia ao certo o que sentia, despedida ou esperança? Marta com mania de entrelinhas o fazia ler por diversas vezes a mensagem. Concluiu então que esperaria Dezembro para fazer um convite. Sentia-se confortável de levar ao pé da letra a sua interpretação.
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