Julie, Julia and Bia

Julie Powell (aquela do filme) saía do trabalho, comprava ingredientes, pegava o metrô e ia para a cozinha testar receitas. Sofria, errava, chorava... Eu, que nunca fui chegada a um fogão, e jamais brilhei na cozinha, tive uma trajetória diferente. Para começar, não segui as receitas ‘da mamãe’, ela tampouco gostava dessa atividade. Olhando vovó e tia Ceição, aprendi algumas coisinhas que elas faziam de modo especial: creme de espinafre, bife à milanesa e croquetes. E hoje, com essa história de evitar frituras, só faço mesmo o creme, lá uma vez ou outra...

Na adolescência tive ímpetos de aprender e ficava perguntando para a nossa cozinheira. Ela explicava, mostrava, mas não me deixava pôr a mão nas panelas... Então resolvi que eu faria alguma coisa quando ela não estivesse. E num domingo fui para a cozinha, pensando em ‘alguma coisa’, porque não daria conta de um almoço para dez pessoas. Mesmo porque eu nunca havia feito nada de nada...

Meu grande trabalho foi incrementar um prato, cujo ingrediente principal – o arroz, já estava pronto. Abri uma lata de ervilhas, outra de milho, ralei um naco de queijo parmesão, cozinhei alguns ovos, piquei azeitonas e desfiei várias fatias de presunto. Tudo delicadamente misturado foi disposto num enorme pirex e colocado no forno. Mamãe se encarregou de preparar a salada e passar os bifes na chapa.

Quando cheguei com aquela travessa fumegante e cheirosa para colocar na mesa, ouvi um ohhh! e fiquei toda orgulhosa. Mal começamos a comer, papai perguntou: quem é que fez essa comida tãooo salgada?

Eu sabia que ele vivia implicando com qualquer comida, porque estava com sal demais ou sal de menos. Sabia também que ele não gostava da empregada e esta era uma boa ocasião para reclamar. O que ‘ele’ não sabia é que naquele dia ‘sua filhinha’ tinha sido ‘a cozinheira’.

Lá se foram minha alegria e meu apetite para o brejo. Saí da mesa emburrada e subi a escada batendo os pés...