"DALVA E HERIVELTON": UM PASSEIO PELA HISTÓRIA... DA VIDA
Foi como uma grata surpresa que recebi a nova minissérie da Globo DALVA E HERIVELTON, que versa sobre a vida de dois grandes ícones da belíssima e não tão divulgada FASE D'OURO da música popular brasileira, marcada pelo aparecimento de vozes maravilhosas e de grandes intérpretes do genero.
Talvez seja eu meio suspeita em opinar sobre a obra posto que sou uma apaixonada pela referida fase da nossa música que considero de poesia um tanto passional.
Porém o que gostaria de ressaltar aqui é que muito mais que uma viagem à música e ao passado histórico dos referidos artistas, aliás passados artístico e pessoal, a minissérie nos reporta ao quase final da era Vargas, quando nos mostra nas telas uma visão da cultura da época, muito bem representada entre as paredes da BELÍSSIMA edificação do Palácio da Quitandinha, uma construção magnífca aos moldes da arquitetura da era hollywoodiana.
Não faz muito tempo que tive a oportunidade de conhecer as instalações do referido palácio, localizado em Petrópolis, uma cidade Imperial cravada na paradisíaca região serrana do Rio de Janeiro, de tão grande importância política nos anais da nossa história.
Construído em um mil novecentos e quarenta e quatro, a suntuosa e glamourosa edificação Palácio da Quitandinha, na verdade um hotel, recebia grande contingente de personalidades políticas nacionais e internacionais, bem como a elite social do país que ali desfrutava do lazer do seu casino.
A edificação nos enche os olhos de espanto!
Se acordarmos subitamente lá dentro temos a impressão de que acordamos numa página da história trazida de Hollywood ou de outro canto do mundo.
O estilo arquitetônico é diferente de tudo que eu já tinha visto em nosso país, embora já com a triste aura da nostalgia do tempo, da decadência do glamour e dum certo ar de abandono da edificação, apesar de a rara beleza da arquitetura permanecer intacta em cada canto e em cada detalhe da singular edificação.
Penso que senti a "Quitandinha " exatamente como a sentiria qualquer coração de poeta que por lá pulsasse..
Uma aura de saudade dos tempos que por ali passaram e que deixaram suas marcas incrustadas nas paredes, nas longas escadarias, em cada uma das dezenas de salas de altíssimos pés- direitos, nas mobílias, nas luminárias, nos palcos de shows.
É como se sentíssemos a respiração dos que impulsionavam as roletas, as fragâncias que emanavam das damas rigorosamente trajadas, das tantas histórias que com certeza por ali aconteceram, entre tantas paredes imponentes...de mudas vozes.
Nos banheiros senti uma energia dos retoques das maquiagens e ouvi o picotar dos saltos agulhas aonde decerto se equilibravam belas e sedutoras mulheres.
Enfim, um lugar que transpira energias, que vale ser conhecido.
Na vez em que lá estive soube que nos dias de hoje ali funciona apenas um condomínio, e que seus grandes e glamurosos salões são alugados para importantes eventos.
No restaurante elegante que ali funcionava sentei em frente a um belo jardim que nos remonta ao estilo de paisagismo europeu da época do Versailles e com uma emoção inquieta, palpitante, procedente dum certo mistério que sempre brota do encontro de tanta beleza, pedi ao garçon um sorvete de baunilha, e assim pude me refrescar do calor borbulhante do meu coração que se amalgamava ao da encantadora serra de Petropólis.
Termino minha crõnica parabenizando a feliz iniciativa da escolha do tão belo e simbólico Palácio da Quitandinha para o cenário da não menos comovente história de amor de dois grandes personagens da nossa música Dalva de Oliveira e Herivelto Martins.
Justamente ali aonde senti que a vida imitou a arte, a arte agora nos traz de volta as vidas... quase nunca encenadas nos palcos palacianos...