FIM DE NOITE
Ele vaga na alta madrugada enquanto Morfeu faz-se presente na maioria. As ruas estão desertas. Está voltando para casa depois de uma noite agitada com alguns amigos.
Ítalo sente seu cérebro queimando, seus pés formigando, quase sem tato para sentir o acelerador do veículo. Por vezes, tem que levantar o pé e premê-lo contra o pedal para ter a exata noção do quanto está acelerando. Esta mesma ardência lhe toma o esôfago até o canal do reto, passando pelo estômago numa sensação de enjoo e diarreia. Sua boca seca e os olhos vermelhos e entreabertos denunciam seu estado entorpecido.
Os movimentos estão em câmera lenta! Ele imagina. As músicas que ele ouve no carro enquanto dirige lhe fazem viajar. Uma compreensão mais apurada das letras lhe vem à mente. Tudo parece ser mais claro e nítido. Esta nitidez que lhe abre o horizonte amplia, igualmente, a consciência dos infortúnios da vida. Ou será tudo uma ilusão? Um blefe da mente?
Pega-se, às vezes, num estado de risos sem motivo, tudo é engraçado, mesmo não havendo graça! Ora, se acha ridículo. Ora, pensa não existir melhor condição para curtir e se refugiar dos problemas. Pretensiosamente se põe a imaginar que todas as pessoas, algum dia, pudessem experimentar tal sensação. Como pude viver sem isso até hoje? Pensa!
Já é quase dia quando Ítalo chega em casa. Percebe que está cambaleando. Guarda o carro na garagem, abre a porta da sala e entra com o máximo de cautela para não acordar seus familiares.
Em seu quarto a cama o aguarda para acalentar aquele corpo cansado e aquela mente ébria. E como se fosse sua melhor amiga, depois de receber aquele ser “maltrapilho”, no dia seguinte ainda lhe faz refletir, trazendo lhe um peso na consciência.