Viva os Reis

Conta a tradição cristã, que foi na madrugada do dia 06 de janeiro, que o menino Jesus, recém-nascido, recebeu a visita dos três Reis Magos. Como não sou cristão, mas sou profundamente interessado nos assuntos relacionados ao Mestre Rabi, incluindo toda a simbologia, andei estudando sobre essa data em especial e a razão pela qual, ela é tão comemorada, principalmente no interior dos países católicos. É nesta data que todas as casas desarmam os presépios e os enfeites natalinos; porém é interessante, como conta a Wikipédia, que "em alguns países, como Espanha, é estimulada entre as crianças a tradição de se deixar sapatos na janela com capim (erva) antes de dormir para que os camelos dos Reis Magos possam se alimentar e retomar viagem. Em troca os Reis magos deixariam doces que as crianças encontram no lugar do capim após acordar."

A primeira vez que eu me dei conta que existia essa festividade, foi quando eu estava em São Tomé das Letras e vi, pela primeira vez, uma Procissão dos Reis, com um grupo de pessoas fantasiadas, indo de casa em casa, saudando o moradores e desejando bons votos; e em troca, o dono da casa, servia algo aos andarilhos que representavam os Três Reis Magos.

A tradição cristã surgida no século VIII converteu os Reis Magos nos santos Melchior, Gaspar e Baltazar. Porém, basta um pouco mais de observação e inclusive a leitura desse trecho na Bíblia, para perceber que eles eram reis de países do oriente, que seguindo uma estrela, chegaram até o local, onde estava a Sagrada Família.

História à parte, afinal, o que temos é apenas o relato, não há nenhuma prova que essa visita realmente ocorreu ou se houve mesmo um Jesus; mas se formos analisar o relato por sua simbologia, verificaremos que essa visita dos Reis Magos, marcou o primeiro encontro ecumênico da história; onde representantes de outras crenças ( talvez, cada um desses Reis representassem três povos, três religiões diferentes; e deixo o número 3 e sua simbologia, mais a menção a palavra "Mago" para reflexões) reconheceram que havia nascido uma outra estrela que orientaria a humanidade e iniciaram uma jornada, para ir até o local, onde essa estrela desceria para a Terra.

O simbolismo dos Reis Magos é amplo e há espaço para as mais diversas interpretações. De onde vieram e o que buscavam, pouca gente sabe; as referências bíblicas são vagas e o episódio quase passa despercebido dos evangelistas; inclusive, há muita gente que diz, que eles foram uma invenção cristã, para aproximar o nascimento de Jesus do nascimento do Rei David, do Antigo Testamento ( ainda mais quando, descobre-se que os Reis Magos já haviam sido citados antes na tradição Judaica); a questão que eu levanto nesse texto, é apenas uma meditação sobre a união de todas as religiões, nesse dia, para saudação a outro Mensageiro das Estrelas, que veio ao mundo nos ensinar.

E se algo podemos aprender com esse episódio, é que se há 2.000 anos, os povos de diferentes crenças já se respeitavam; seria interessante, refletir sobre como anda o nosso respeito pela crença alheia. Estamos jogando pedras no que é diferente? Ou estamos celebrando a estrela que ilumina outros povos com a nossa consideração e respeito como presentes?

Curvar-se ao Menino Jesus, como fez os Reis Magos, não significa submissão a uma nova ( e única e verdadeira) religião; mas o reconhecimento que todas as crenças são caminhos para o Divino. Mesmo que alguns caminhos possam parecer estranhos ou conflitantes para os nossos valores. Nessa hora, diante, de uma Estrela do Ocidente, ou qualquer outro símbolo que represente um perigo para as nossas convicções, precisamos treinar a humildade e desarmar a nossa árvore da verdade. Para com a mente aberta, renascemos para uma nova visão do mundo