Foto de arquivo pessoal. Fotografada em 06/01/2010 por meu filho
Aldo Brane (10 anos).rs



PARA NÃO ME PERDER DE VISTA!


Quando nasci era apenas uma penugem clarinha que com o tempo desapareceria. Não desapareceu, ao contrário, quanto mais meu cabelo crescia, aumentava aquela mecha loira.

Mamãe e as pessoas amigas diziam:

“- Você nasceu com essa mecha porque é tão boa que Deus a marcou para não a perder de vista!”

Os divertidos e os maldosos me diziam:

“- Você é tão ruim que Deus marcou com essa “mancha” para não que não fuja da vista dele!”

Cresci acreditando nas palavras maternas e amigas. Era mais sábio a fazer e menos doloroso para mim.

Raramente usava os cabelos repartidos para o lado, deixando a mecha loira visível porque eu detestava! Sentia-me a própria Mortícia do seriado Família Adams. Por conta da mecha que me destacava na multidão, ouvia muitas gracinhas, nem sempre divertidas.

Por volta dos oito deviam me achar menina rebelde, pois ouvia os mais velhos volta e meia dizer sobre minhas madeixas:

“- Que absurdo os pais dessa criança permitirem pintar os cabelos nesta idade! Imagino o futuro dessa menina!!!”

Eram poucos os que acreditavam em minhas explicações de que era mecha de nascença.

No colégio, entre os jovens colegas, quando me equivocava em algumas respostas, havia sempre aquele menino brincalhão que soltava uma piada:

“- Liga não, é seu momentinho loira burra!”

Havia, porém, alguém sempre  disposto a  me defender:

“- O bom é que você pode agradar a todos os garotos, como morena e loira!”

Minha melhor amiga de colégio, um dia disse-me assim:

“- Quando você ficar velha essa mecha será a primeira a ser pintada!”

Lamento ter perdido contato com essa amiga. Diria-lhe que por mais que tente encobrí-la, a mecha amarela permanece indiferente a tintura. Não adianta pintar os cabelos que ela resiste.
                  
Passados os anos acostumei-me com a mecha. Diferente do tempo de menina onde escondia-me no banheiro e de posse do rímel preto tentava colorir, inutilmente, aquela “falha” nos meus cabelos.

Sempre que deixava a mecha à mostra era alvo de atenções. Nunca gostei de ser o centro dos olhares. Aboli definitivamente a repartição dos cabelos para o lado. 

Atualmente valho-me de outra marca para não me fazer esquecer. Por Deus e pela humanidade. Hoje minha marca já não é a mecha loira de nascença. É a minha escrita.

Alegra-me saber que meus textos são úteis para o leitor. Que faça bem a um leitor apenas. Mas, se ele sentir melhoria após ler o que escrevo, é gratificante e compensador demais para mim. Não há nada melhor e recompensador do que atingir o coração e mente de quem lê um texto meu.

Agora me diz! Tem alguma mecha ou mancha escondidinha aí, hein?rs