Gordinha sofre

Como é normal, ao entrar na adolescência dei uma espichada, ultrapassei a altura do meu irmão mais velho. Vibrei. Mas a alegria durou pouco, logo ele também cresceu, assim como os outros e me deixaram no chinelo. Só eu herdei essa característica da família de papai. Até mamãe era mais alta que ele!

Eu invejava a altura da dona Laura, que nem era tão alta assim. Para mim não precisava tanto, um pouquinho que fosse já resolveria meu problema, que na verdade estava mais na largura... Quando não se tem por onde esparramar as gordurinhas elas ficam concentradas... e aparecem mais!

Nunca cheguei a ter o apelido de gordinha. Mas os meninos caçoavam, diziam que meu braço parecia um pãozinho, o que gerava muito bate-boca. Com a briga armada, vinham logo safanões (deles), mais fortes do que a mocinha aqui. Para me defender, aprendi que minhas unhas serviam para alguma coisa: dar unhadas. E tudo se resolvia, eu sempre chorando e eles correndo (e rindo) quando ouviam os passos de mamãe. E depois ainda me chamavam de manteiga derretida...

O pior de tudo foi o que aconteceu um dia ao me encaminhar para a praia. Ia eu satisfeita com as amigas, trajando o maiô da moda (inteiro, com uns babadinhos feito sainha) quando a maldita velha caiçara, toda enrugada e debruçada à janela da sua casa de taipa olhando bem pra mim, falou: Ô buta perna, moça! Não pesa, não?!