Crônica Gota
Voltando do trabalho nesse janeiro chovia. É o verão mostrando em águas o desejo de espaço nos nossos dias. Reparei na água, gotas insípidas que caiam, uma única gota nada nem molha, mas todas juntas derrubam uma montanha na orla da praia. Levam vidas arrastadas, sufocadas, soterradas. Mais ainda assim chover é um desfile magnífico de gotinhas.
Porque chovia apareceu o arco-íris. Enquanto chovia, as vezes o sol. Enquanto chovia as vezes nuvens. Enquanto chovia as vezes respingos e gotas perdidas. Porque chovia as nuvens escuras pareciam mais juntas e o céu mais baixo. Tudo uma linda arte da natureza.
Banho de chuva lava a alma, traz uma calma, purifica a cabeça das incertezas.
Mas todos estendem o guarda-chuva e a lona, estendemos a capa e continuamos crendo que não iremos no molhar. Então continuamos totalmente secos por dentro. Alguns respingos no pé, mas nada perto do peito. A chuva sempre traz lembrança de vida, alegria escorrendo em folhas verdes e frutos frescos num futuro presente. Mas preferimos as calçadas de concreto sem deixar a chuva no solo chegar, preferimos as ruas de asfalto e nos desintegramos da nossa natureza em terra. Por isso não tenho guarda-chuva.
Quando o ano é novo começa sempre chovendo, quando começa assim é ano ano de renovo.
Essa crônica vai pingar nas suas idéias, procure não abrir o guarda-chuva lógico. Deixe chover. Se molhe. Assim poderá brotar vida de você.