QUE HORAS TEMOS?

Temos quase certeza que não era para ser assim. Mas assim acabou sendo.

Viramos escravos do relógio.

É hora para levantar, comer, banhar, trabalhar, dormir e aquilo que você deve estar pensando. Não necessariamente nessa ordem, mas essa é a nova ordem.

Dizem que foi Santos Dumont quem inventou o relógio (embora haja algumas controvérsias; uns dizem que ele inventou um relógio para ser carregado no pulso, outros que não inventou nada, só copiou), com o objetivo simplesmente de cronometrar o tempo que ele ficaria acima do chão com sua nova geringonça.

Pronto. Foi o começo da desordem mundial. Ninguém mais teve paz.

O tal relógio escravizou tanto a humanidade que chegou ao cúmulo de um ateu se perguntar: “Meu Deus, será que isto está certo?”.

Não que ele estivesse se referindo ao relógio que até então era carregado no bolso, mas a contagem do tempo que até àquela hora, pertencia a Deus.

Na década de 70 os chineses e outros amarelos difundiram o relógio digital. Aquele sem ponteiros que marcava tudo com muita exatidão. Inclusive quando estava prestes a chover, pois embasava o vidro. Esse relógio custava 30 reais e duravam exatos seis meses.

Isto é: custava cinco reais ao mês, 18 centavos por dia ou 1 milésimos de centavos a hora. Uma mixaria. Aqueles adquiridos no Paraguai duravam um pouco menos e atrasavam um pouco, mas quem se importava com isso? O que importava era ter um. Falso ou quase falso.

Quando os suíços perceberam que estavam perdendo a corrida para os amarelos, correram contra o relógio e criaram verdadeiras obras de arte como o Rolex revestido de ouro maciço.

Nas altas rodas sociais se o empresário não estivesse com um Rolex no pulso era um claro sinal que sua empresa estava falida. Ou a caminho.

Mas os fabricantes não pararam por aí. Nem poderiam. Tinham que fabricar um relógio para impressionar e presentear a futura esposa ou amante, para que ela soubesse com quem estava se relacionando e não perdesse a hora do encontro.

O que fazer?

A empresa Cartier não vacilou. Fabricou um relógio crivado de diamantes.

As vendas foram estupendas. A tática funcionou.

O relógio? Quando ele parou de funcionar podem ter certeza que os adornos não foram juntos para a caixa de lixo.

E a amante? Ah, deve estar curtindo férias permanentes no Havaí.

Agora acabam de anunciar que vem aí o relógio fabricado com aço dos destroços do navio Titanic, aquele que afundou em 1912, a um preço de perder a respiração por longos minutos. 173 mil dólares.

Certamente que não será para presentear mulheres, pois esse não brilha. Mas deve brilhar aos olhos de empreiteiros loucos para agradar governantes que tenham obras para serem executadas. Tic Tac! Ou seria Pac Pac?

Que horas temos, por favor?