Subversivos X Militares
SUBVERSIVOS X MILITARES
Subversão, no Aurélio, é definida como “insubordinação ao poder constituído”, ou seja, o subversivo é aquele que declara guerra às autoridades. Militar é quem tem vocação à guerra, às milícias; aquele que segue a carreira das armas e faz combates. Ou seja, ambos possuem o espírito bélico de um revoltado. Mas, muitos diriam: os militares são patrióticos e, seu objetivo maior, seu ideal, é defender seu País. O próprio presidente americano, ao receber o prêmio Nobel, afirmou – não me lembro das palavras exatas, mas do sentido do que foi dito – que devido aos atentados, há guerras que são justas, para exterminação do perigo de ataque contra os Estados Unidos.
A que ponto chegamos: o extermínio de pessoas é necessário para o bem de alguns. A loucura de Hitler deixou de ser loucura e passou a ser um comportamento aceitável, e até recomendável, dependendo das circunstâncias. Antes que a ameaça do outro se cumpra, eu ataco. Mesmo sem ter certeza do perigo; porque, afinal de contas, ameaça é uma possibilidade, não um fato concreto.
Em 1960 eu comecei a trabalhar no Ministério das Relações Exteriores, na antiga Rua Larga e atual Marechal Floriano. Era nosso vizinho o Ministério da Guerra, sede do exército brasileiro. Um pouco além, está a Central do Brasil, palco do comício que deslanchou a chamada “gloriosa”, revolução que pretendia afastar o perigo do comunismo, implantado na também antiga União Soviética. Eu vivi tudo isso e ao me referir aos fatos, tenho a impressão de estar contando uma estória e não falando de História. A instabilidade política era visível, até para mim, aos vinte e poucos anos, e completamente ignorante do assunto. Estava no meu trabalho, no dia 1º de abril de 1964 (e não no dia 31 de março, como afirmam os livros), quando chegou ao auge o “golpe militar”. Fomos resgatadas (3 colegas do Itamaraty) pelo pai de uma amiga, que foi nos buscar no centro, onde havia mais perigo de bombas e explosões, dada a proximidade com o Ministério do Exército. Quando passamos pela Cinelândia, onde eclodia a revolta popular, os soldados soltaram bombas lacrimogêneas e o nosso motorista teve dificuldade para enxergar o percurso. Foi com apreensão que passamos lentamente pelo local, prosseguimos para o Flamengo, onde morava minha amiga, e chegamos ilesos. Depois de todo esse tempo ainda me lembro nitidamente dos fatos. Presos políticos, seqüestro do embaixador americano, torturas nos quartéis, desaparecimento de conhecidos; nomes pipocavam nos noticiários e era difícil tomar partido e saber, de fato, quem estava com a razão: se os militares, que defendiam a pátria dos comunistas, ou os subversivos, que estavam ao lado do povo, tentando protegê-lo do golpe militar. O que não podemos negar e todos sabem, houve excesso dos dois lados e ambos cometeram crime de lesa-pátria, embora os motivos fossem, na opinião deles, justificáveis. Mas tudo isso é passado, e passado passado.
Hoje, nomes notórios, dos dois lados, convivem supostamente em harmonia até que, um “herói” daqueles tempos, se sentiu injustiçado e com poder suficiente no momento, para se vingar de quem o oprimiu. Resolve, então, acabar com a anistia para os dois lados da crise de 64 e institui a Comissão da Verdade, para castigar os torturadores do temido DOPS –“tortura nunca mais”. Será que estes torturadores foram mais cruéis que os subversivos assassinos?
Ironia das ironias, o governador de São Paulo, potencial candidato do PSDB à Presidência da República, era presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), um dos focos nacionalistas e, depois do golpe, foi exilado no Chile, por pertencer à oposição aos militares. A outra potencial candidata ao mesmo cargo, é a Ministra Dilma Roussef, também integrante de movimento revolucionário, o MR8 e, como Chefe da Casa Civil, origem do documento, criador da Comissão da Verdade, que pretende acabar com a anistia.
Remexer nesse passado de guerrilha, de recurso às armas, de guerra como solução, vai causar mais dor e retrocesso para o País. Eu me pergunto, então, onde está o amor à Pátria; com os subversivos ou com os militares?
Petrópolis, 5 de janeiro de 2010