Um Sikh beberrão e um chicken rice ao jantar que não chega para todos os passageiros. Ficaram no prato as pelancas e gorduras da penosa e o próprio arroz sem atrativos nem gosto. Gosto e atrativos que sobram no belíssimo trajar das atendentes, cujos corpos esguios e elegantes parecem ainda mais esguios e elegantes, de formas bem marcadas e reveladoras!
O Sikh de vermelho turbante e negras barbas levanta-se e eu observo suas reações após as cinco doses de whisky que ingeriu. Se fosse em terra, pensei, mais propriamente na terra dele, poderia até esperar que ao levantar-se, revelaria o seu vistoso Kirpan de cabo e baínha ricamente enfeitados de jades e cores. Mas estamos a 12200 metros de altitude num avião singapurano com rumo a Singapura, último lugar do planeta onde desembarcar com uma arma, seja ela que arma for...
A aeromoça serve-me um pouco mais de vinho branco bem gelado. "Não é lá dessas coisas", pensei. Referia-me obviamente ao vinho australiano de travo muito ácido, não à esbelta atendente de olhos muito oblíquos. Porque será que tanto admiro os olhos muito oblíquos? Quando riem, transformam-se em pequenas fendas e eu sempre me pego a pensar: "Como será que ela enxerga"?! São charmosas as singapuranas de olhos muito oblíquos...
Levanto-me para esticar as pernas e aproveito para ir ao lavabo mais próximo para descarregar a acidez do vinho. Observo o imenso túnel voador pesadamente carregado com mais de 500 passageiros e suas bagagens, cruzando os ares! As horas sucedem-se e vou ficando rendido, sonolento...