QUANDO RESPIREI A LIBERDADE
O novo endereço não é exatamente estranho. Em outros tempos, estivemos bem mais distantes, e mal conseguia entender o que separava um dia do outro.
É preciso criar lembranças para que a noção da referência se estabeleça. No meu caso, muito mais do que isso. Durante dois anos, numa espécie de vácuo, a sensação de deslocamento me acompanhava onde quer que estivesse. Já não importava em qual cidade: de origem ou a nova...
Escrever representou a sobrevivência, meu "asilo político" no exílio da saudade e do desencontro na alma.
Esta nova cidade, de onde agora escrevo ainda em férias, é o solo que reconheço como a pátria das minhas letras.
Sampa está em mim, mas o Rio é a segunda pele que recobre minha existência. Neste lugar de beleza incomparável, a solidão batia tão forte como em ondas nos rochedos da praia do Leme ou Arpoador.
Desta solidão que nada tem a ver com estado civil - casamento não é solução mágica protetora da realidade - vieram outros laços. Pessoas amigas e lugares onde sinto paz e alegria. O coração reconhece a familiaridade. E torna os dias mais leves. Parece que, finalmente, criei "raízes" em outra cidade.
Então, decidi escrever esta crônica ao entrar na minha livraria predileta onde há um charmoso restaurante, no segundo piso, com cara de café (ou o contrário). Não escolhi a mesa habitual, no canto, nem esperava pelo amigo querido.
Sentei em um lugar onde podia ver minhas paixões: os livros e DVDs e apreciar o movimento. Estava sozinha, mas não me sentia só quando respirei a liberdade. Uma das melhores companhias que encontrei para minha vida.
(*) IMAGEM: Google