CONCEITOS SOBRE UM MUNDO DE PAZ
CONCEITOS SOBRE UM MUNDO DE PAZ
Num mundo de paz, as pessoas se respeitam. Somente existe, porém, o mútuo desejo de que o outro tenha ainda melhores condições psicológicas e materiais do que a gente, quando se ama. Creio que uma boa parte dos queridos leitores e leitoras desta coluna pensaram no amor de mãozinha dada, em passeio pelas ruas ou praças da cidade, dizendo-se palavras de mútuo carinho e de enlevo espiritual e de desejo e de promessas. Talvez, até, tenham ambos feito agradecimentos à ciência pelos benefícios obtidos pela ação do Viagra ou do Forteviron, que não é nada mau, porquanto são agradáveis os seus efeitos por falarem aos sentidos e às emoções. Mas o amor que tentamos trazer à baila não é o amor carnal e sim o amor caridade. Falando em caridade logo nos vem à mente o bem-estar material do próximo. Dar alimentos, remédios, um cobertor, uma cama ou uma roupa nova ou usada para quem não a tem, é louvável. Demonstra preocupação e valor moral por parte de quem dá esses artigos negados à miséria e suscita íntimos agradecimentos – muitas vezes não externados – por parte de quem recebe esse conforto. Muitas pessoas que podem fazer esse mimo a um necessitado, não o fazem por negligência, descaso ou por acharem que estão desvirtuando o sagrado dever de trabalhar para se conseguir aquilo de que necessitamos. Mas, mesmo que esse gesto seja uma caridade que traz aos membros da sociedade, além de um clima solidário, a certeza de que os mais avantajados financeiramente se preocupam com os menos favorecidos pela sorte e/ou com os que, apesar dos pesares da procura, não conseguem um trabalho regular que não esteja à margem da formalidade, e não o encontram, não é o único meio de se praticar a caridade evangélica. Depois de ler textos sobre o tema vem-nos uma pergunta: será que existe alguém tão pobre que nada mesmo tenha a dar? Seguindo esse pensamento concluímos que os ricos têm a facilidade de dar agasalhos, cobertores, trabalho e alimentos para os que os vêm pedir. Mas quem apenas tem o prato do dia para se alimentar e à sua família, ou nem isso tem? Aí também nos vem à mente aquelas sábias palavra do Cristo: “Não é só de pão que vive o homem...”. O que ele quis dizer com isso? Creio que ele nos ensina com estas palavras que o apoio moral é tão necessário e valioso, em certas ocasiões, quanto o é o alimento. A palavra de conforto ou de ensinamento que é dita a um doente do corpo ou da alma também é caridade. E essa palavra, mesmo não tendo pacotes de dinheiro no bolso ou no banco; mesmo não tendo uma bela casa para morar; nem mesmo tendo um bom carro, todos nós que temos bons e sadios costumes, adquiridos neste mundo em que convivemos com opulências e misérias nos pajeando; se não os transformarmos em sábios conselhos aos que deles necessitam para continuar suportando as mazelas das vicissitudes da vida, perdemos uma boa oportunidade de crescer moralmente. É a caridade cristã na sua mais pura acepção, se dado, esse apoio moral, com cautela, sem prepotência e sem intenções de ferir ou melindrar o contemplado. Não é só o pobre que precisa receber. Também o rico em bens terrenos necessita, nalgumas ocasiões, uma palavra que o faça levantar a fronte e, talvez, o faça ver de outra forma o mundo em que vive e o torne mais humano e mais cristão. E esse gesto pode partir de qualquer pessoa – rico ou pobre – que tenha boa formação moral e leve a vida a sério, porque essas coisas independem da intelectualidade e de canudos da universidade. Essas coisas da bondade do coração são atributos do espírito de quem crê em Deus, na sua obra, nos seus preceitos e leis, porquanto só teremos um mundo povoado da sociedade que busca a paz, quando sentirmos a necessidade de ajudar-nos mutuamente em todos os sentidos da vida; quando a bússola do comportamento humano não mais estiver manchada pelo ódio, pela discriminação, pela inveja e pela avareza; quando o ser humano aprender a repartir – sem olhar com quem – o pão e o gesto da verdadeira caridade cristã que emana da palavra. Naquele mundo, meu caro leitor, as sociedades humanas estarão em busca da paz e de uma convivência sadia.