SUCESSO, PRAZER E FELICIDADE

Alta madrugada. Acordo com uma sensação de vazio sem saber exatamente do que se trata. De repente, uma palavra toma conta do meu pensamento: sucesso. Acho que de tanto divagar sobre o real sentido e o verdadeiro valor do termo, terminei me atormentando ao longo de um sono inquieto e atribulado. Pulo da cama e vou direto para o computador. Ponho-me a escrever compulsivamente como se quisesse derramar todas as noções de sucesso que alguém já tivesse pensado neste mundo de Deus. Assim começo escrevendo que para saber do sucesso alguém tem que realizar alguma coisa, ser persistente com ela e crer profundamente para que possa agradar. Neste instante, pergunto-me: agradar a quem? A resposta vem de imediato – pelo menos a si mesmo, independentemente dos outros, tal qual um jornalista que tendo recebido a missão de escrever sobre uma iminente tempestade teve a percepção de, não confirmado o cataclismo anunciado, registrar com detalhes uma garoa estabelecida. Era a medida do sucesso pessoal, rompendo os laços de obrigação com a mídia, a venda e a catástrofe, além da dissimulação da projeção profissional. Fazia aquilo porque se sentia envolvido com a necessidade imperiosa de relatar a experiência vivenciada, o que o deixava pleno de felicidade. Volto a mim e continuo o passeio reflexivo sobre o tema. O sucesso tendo como conseqüência o acúmulo de bens materiais não seria um contra-senso, visto que o seu detentor passaria a ser escravo de uma produção rentável? Aí, eu lembro-me do canário, que canta maviosamente a troco de nada e nem por isso deixa de encantar a natureza e sentir prazer com o próprio canto. Depois reflito sobre o peixe que segue a frente do cardume a cumprir sua rotina de guia sem que dê demonstrações de superioridade perante os seus semelhantes. Diferentemente, tem gente que ao se destacar em alguma atividade em relação às demais pessoas, fica pretensiosa e chega a mostrar atitudes por vezes inumanas. E a semente que germinando, para se desenvolver em uma árvore frondosa, consegue superar outras que nem quebraram sua dormência? Isto também não seria sucesso? A simples sobrevivência do pobre que mal tem o que comer e sofre as mais incríveis injúrias ao longo da vida, também não seria um exemplo de sucesso? Poder prestar atenção e ouvir o canto de um concriz não seria digno de ser considerado um sucesso maravilhoso, quando há tantos que não conseguem ouvir por limitações fisiológicas ou de critérios de valor? Nesse contexto, também estaria sentir o sabor dos mais diversos alimentos. Urge lembrar que tem gente que se sente bem pela sensação do vento soprando no rosto e por ter a capacidade de associar sabor e cheiro com a qualidade daquilo que come. Subir em uma serra e avistar campos distantes envolve, neste diapasão, formas diversas de ações bem sucedidas. De repente, parei e ralhei com meus botões: chega de ficar listando formas de sucesso. No lugar disso, devo dar preferência ao que me dá prazer e me deixa mais feliz.