10 de julho de 1993 
 
Ele já saiu do túnel escuro com nome e sobrenome: André de Melo Duarte. E eu o amei desde a primeira vez que o vi minutos depois de nascer.

Ele chegou à luz da vida como se fosse um anjo e com um anjo se pareceu por muitos e poucos anos. Imagem barroca de carne e osso, os cabelos cacheados emoldurando a face sapeca.

Acostumou-se desde cedo a ser o preferido das equipes com seu chute forte e violento e colecionou medalhas bem antes de todos. E muitas. Mas um dia... bem cedo ainda a vida pregou-lhe uma peça e o destino previsível deixou de ser quase certo – antes de deixar de ser menino estragou-lhe a perna, estragou-lhe os chutes a gol. Se ele se importou, não sei. Teve que aprender a andar novamente, com as muletas. Procurou novos afazeres, Comeu e comeu, se fez anjo gordinho mais fofinho do que já era.

Continuou a viver a sua vida de muito amado e se mudou voando com as asas que nunca lhe abandonaram. Foi com a mãe e a irmã acompanhando seu novo pai e sua nova irmã. Primeiro  para Ipatinga, depois Uberlândia e agora suas asas o levaram mais longe ainda – Recife. E foi lá que os chutes voltaram e na adolescência, travando a luta contra a balança ouve os aplausos e os gritos da platéia... Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo...

02/01/2010

Escrito em homenagem ao André, meu sobrinho, que acaba de chegar do Recife para uma temporada de férias. Aí, montado na lua, ele ainda era bem pequeno, embora pequeno nunca tenha sido. A foto é minha, a montagem de minha irmã Regina M. Jocknevich

Da série : De trás para frente ou de frente para trás, tanto faz, leia como lhe apraz.