A PRIMEIRA DO ANO







Encontros às escuras podem render histórias originais. Por isso, resolvi escrever a primeira crônica de 2010 inspirada em uma das cenas mais inusitadas que acompanhei.


Estava cansada, carregada de pacotes de Natal (a história se passa no final de dezembro), faminta e entediada. Confesso, poucas coisas me aborrecem mais do que hora marcada para a vida.


Entrei numa lanchonete disposta a transgredir! E entre o hamburguer coberto pelo queijo derretido e muito catchup, goles generosos de chopp (adoro!), de repente, o inusitado!


Ele entra apressado e senta-se na mesa em frente. Olha o relógio diversas vezes e consulta o celular. Parece que recebe um torpedo e responde. Minutos depois, ela chega.


O homem acena e a mulher se dirige até a mesa. Não sei explicar o que despertou tanto minha atenção. Talvez, os indícios explícitos de uma história em seu início. Achei original marcar o primeiro encontro no fim de tarde de uma véspera de Natal.


Assim que ela se acomoda na cadeira, o celular do homem toca. Ele atende no primeiro sinal:



- Alô Mamãe! (Uma pequena pausa e ele continua). Como assim? Não era só a farofa que estava faltando? Agora não tem molho de macarrão? (Outra pausa) O que a vovó está berrando aí do seu lado? Ela quer saber se vou temperar o pernil? O quê? Vocês ainda não temperaram? Olha a hora! Desse jeito não tem ceia, mamãe! Não tem ceia!


A mulher parecia atônita, mas generosa. Ouviu toda a ladainha familiar do homem. E depois, fez um sinal para o garçon:


- Vou fumar lá fora e já volto. Quero um chopp, por favor! Vou beber na calçada!





P.S.: Resolvi gravar alguns textos. Então, agora, passo a abusar de sua boa vontade não apenas por escrito, mas também por voz! :)
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 04/01/2010
Reeditado em 04/01/2010
Código do texto: T2010611
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