A ARTE DA ESCRITA E A FORMAÇÃO DE OPINIÃO

Entre tantos sentidos, escrever significa formar opinião.

Tomemos estas duas palavras, “formar opinião”, como ponto de partida. Creio que elas contêm a razão principal de muitas pessoas terem dificuldades em redigir um texto. Formar opinião não exige apenas conhecimento, requer, acima de tudo, uma formação cultural definida. Lembremos que os valores e os dogmas religiosos são determinantes na formação do caráter de cada pessoa.

Um exemplo bem prático é o tema “aborto”. O que escrever, numa redação de vestibular ou concurso, sobre este tema? Esta é a grande pergunta que experimenta uma pessoa em tal situação. A dificuldade, normalmente, não advém da falta de informação, mas sim da necessidade de defender um ponto de vista. Um ponto de vista que se baseie em fortes argumentos, que seja capaz de convencer o leitor.

Se na base da formação do caráter prevalecem, estando ali arraigados, os conceitos bíblico-cristãos, provavelmente o ponto de vista de quem escreve será contrário ao aborto. Será, no entanto, favorável, se o indivíduo for oriundo de uma família não-conservadora.

O grande problema é que nem sempre é possível se identificar precisamente com um destes conceitos, isto é, o conceito de ser ou não ser conservador.

Há fortes argumentos que dão base à condenação do aborto. Há, por outro lado, argumentos igualmente fortes reunidos pelos que o defendem. Ambas as linhas de raciocínio são difundidas pela mídia. E, nesse contexto, as famílias e as comunidades ora se posicionam favoráveis ora contrárias. É, como se pode ver facilmente, difícil para alguém que cresce nesse ambiente formar uma opinião irrefutável. Se isto ocorresse, o tema em questão não seria polêmico.

A escrita pode e deve, na medida do possível, ser direcionada segundo as intenções do sujeito. Todavia, nem sempre isto é possível. É comum o escritor não saber aonde vai chegar quando inicia um determinado texto. Por isso, nem sempre é recomendado que se espere que a inspiração chegue. Isto pode não acontecer e, consequentemente, a obra não surgir. É quando colocamos a mão na massa, que as coisas começam a acontecer.

Quem não consegue perceber claramente os conceitos básicos que definem o seu caráter, ou seja, de que lado do muro se encontra, tem, em geral, dificuldade de formar opinião e, consequentemente, de escrever. Eis a importância do pensamento reflexivo. Ele nos faz encontrar a nós mesmos e nos conecta ao sobrenatural.

Que a força do nosso Deus ilumine o nosso espírito e nos capacite para (sem perder a capacidade de ouvir e respeitar a opinião alheia) termos um posicionamento racional e definido diante deste mundo, onde a confusão impera!