COMEMOS NOSSOS DIAS
Meu lápis desliza por linhas retas, absurdamente iguais. Aos poucos vão se aglomerando letras sob letras que podem transmitir sentimentos, sonhos, devaneios.
Devanear com o dia de ontem que inexoralvelmente se juntou ao nosso passado. Há tão poucas horas ele era presente, vivo, palpável, real. No entanto, apenas pela simples razão de um ponteiro de relógio resistir a parar, ele foi relegado ao posto de passado. Foi-se. Uniu-se a tantos outros, somando e aumentando uma enormidade de dias vividos, nem sempre vividos, as vezes, apenas vegetados.
Pensar em números,datas, expectativa de vida, assusta. Lembrar que os dias escorreram lentos, as horas eram lentas, eu lenta. Tudo acontecia na suavidade, na marcha de uma preguiça. Com o passar do tempo, como passou rápido, os dias, os anos se aceleraram, correram com a celeridade de uma lebre, desapareceram á olhos vistos. Mal chegam e já viram passado. E, o passado vai ficando cada vez maior, o presente cada vez mais rápido, e, o futuro diminuindo,diminuindo, diminuindo,diminuindo...O viver, o saber viver, o poder viver, adquire força, sede, vontade.
As vezes a nostalgia nos leva a viagens ao passado na tentativa de revive-lo. Relembramos fotos, pessoas, lugares só que esses, cada dia vão esmaecendo até desaparecerem por completo. Tudo, todos viram números. O corpo já não obedece prontamente ao nosso comando, mas, nosso coração continua batucando, sentindo, sofrendo, amando e não se dá conta de que já não somos os mesmos. Caminhamos rápidamente. Evitamos olhar pra trás, comemos nossos dias com avidez, gulosos da vida.
Mas, ainda restam alguns, talvez o bastante para que consigamos realizar nossos sonhos incompletos, secretos, viver nossos amores ainda desconhecidos, esquecer dores e desamores e viver como se fossemos eternos.