DIÁLOGO ENTRE UMA CANETA E A TINTA !
Uma famosa e agora idosa senhora Parker e uma não menos velha, senhora Tinta, se reencontram depois de muitos anos, numa fila de um banco.
__ Oi minha amiga! Há quanto tempo, tudo bem? Perguntou-lhe a senhora Parker já com um ar de superioridade. Após todo o ritual que convém a um reencontro assim, a senhora Parker não poupou o ambiente e nem tão pouco sua velha amiga. Com seu jeito expansivo e exibicionista de ser, foi logo tascando!
__ Tinta minha amiga! Fiquei sabendo de umas coisas... Você sabe quem Castrou Alves? Não? Machado de Assis! Sabe como? Não? Camões! Sabe de quem é essa? Não? Eça de Queirós! Completou com uma estrondosa gargalhada, mas prosseguiu, ante aos olhares espantados de todos!
E a senhora Tinta sempre paciente e humilde lhe emprestava toda atenção!
__ Sabe amiga Tinta, estou um pouco chateada!
__ Mas por que amiga Parker? Não me parece! Perguntou a senhora Tinta olhando de soslaio.
__ Acabei por casar-me com um pobretão!
__ A é? Quem?
__ O senhor Lápis, lembra? Aquele que teve um caso com a lapiseira! Tá meio gasto, mas vivemos bem apesar de tudo. Moramos num sobrado ali na Augusta, pertinho da Paulista.
__ Que ótimo! Parece-me um bom lugar para morar, afirmou a senhora Tinta, dando mais três passos na fila que vagarosamente se movia.
Mas a senhora Parker continuava com toda a corda!
__ E tu, onde Moraes ó! Pessoa?
__ Nas páginas de muitos livros a perder-se a conta, minha cara amiga Parker! Respondeu quase explodindo!
__ E onde estão os livros?
__ Espalhados por todo o canto Drummond, respondeu-lhe de bate - pronto a senhora Tinta, agora toda orgulhosa, abafando de vez, a petulância da inoportuna senhora Parker.
[Os poetas aqui citados, hão de me desculpar]
SBC- SP- José Alberto Lopes.
21/07/2006