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              O ADOTIVO


Verão de 2008...
Era madrugada e um calor intenso não nos deixava permanecer dentro de casa.
Estávamos na varanda e Thiago,meu filho,fumava um cigarro recostado ao portão.Subitamente começa um monólogo:
_Vem cá,meu amiguinho...Pra onde vais a uma hora destas?
Chegue aqui,coisinha fôfa...Vêêêm...Tadinho!...E eis que surge Thiago trazendo nos braços aquela coisa feia,suja,cansada...
Depois da costumeira bronca acatamos a idéia de hospedá-lo em nossa casa.Faria companhia à "Tífani" e "Frank" membros da família há bastante tempo.
O pequeno Poodle que Thiago trouxera nos braços mostrava-se desesperado.Servimos-lhe um pote com água,que êle bebeu quase por completo.Um outro com ração,que ele apresentava alguma dificuldade em mastiga-la.Observando-lhe mais atentamente percebemos que o "velhinho" tinha apenas trez dentinhos em sua arcada inferior e uns poucos na superior.Providenciamos algumas sobras do jantar,do que ele fartou-se exgeradamente.
No dia seguinte,depois de um banho tomado,uma tosa "amadora" o pequenino ser ficou um pouco mais apresentável.Precisava de um nome e dentre tantos cogitados,"Polaco" foi o que achamos lhe cair melhor.Um jeito carinhoso de homenagear sua pelagem clara.
Alguém,no uso (abuso) de sua impiedade,o havia solto nas ruas e o pobrezinho andava perambulando sem rumo.Faminto e sedento.
A nossa casa,sem dúvida,era o lar que lhe estava predestinado.
Mais tarde observamos nele um sério problema de visão.Quase uma cegueira,segundo palavras do veterinário que nos assegurou já não mais haver qualquer possibilidade de cura.
Juntou-se a nós há mais de dois anos e nêsse período revelou-nos por inteiro em sua personalidade:
"Frágil e solitário"...Quando ao cair da noite emite uma espécie de suspiros e soluços doídos.Seus olhinhos que tão pouco enxergam,perdem-se num vazio só seu e num tom muito baixinho resmunga sua solidão.Segundo a minha vizinha,membro de uma ONG de proteção aos animais,é um sentimento igual àquêle que acomete as pessoas. Ressente-se da ausencia de seus antigos donos e uma espécie de lembrança o torna vulnerável.
"Metido à Fortão"...Quando impõe a sua pseudo-valentia ao "Frank",de um porte trez vezes maior que o seu e que acaba sempre fugindo com o rabo entre as pernas ao menor de seus rosnados.
"Carinhoso e carente"...Quando vai enroscando-se em nossas pernas com sua grossa manta de lã insinuando-se em busca de algum afago.
"Um chato"...Incorrigível quando acontece algum atraso no horário das refeições.Perturba,amola a paciência,até que lhe seja servido o seu pratinho.Aí,então,deita-se e dorme tranquilo.
Estamos felizes com a sua presença em nossa casa e aproveitamos para deixar um recado aos algozes,que desfrutaram-lhe do viço de seus melhores dias e quando já bem velhinho e doente,atiraram-no numa rua deserta. Sem compaixão,deixaram-no perdido na escuridão de suas retinas,no desespero do cansaço,da fome e da sêde.
Nós o adotamos,e queremos muito bem a este "polaquinho" chato que foi aos poucos aprendendo a defender os seus direitos além de perceber-se acolhido e amado numa casa onde impera fraternidade e respeito à todos os sêres.Humanos ou não.


PS.Esta  crônica  foi  escrita  há algum  tempo.O  Polaquinho infelizmente já  não  mais existe.Deixou muitas  saudades.