BEIJA FLOR

Ontem pela manhã, um beija-flor entrou em minha casa, não sei por onde passou, contudo, ficou o tempo todo tentando sair através do vidro da janela; permaneci numa aflição terrível vendo o minúsculo pássaro se debater em vão. Tentei sem sucesso o pegar, mas, não consegui; os anos já pesam nas costas, e o que antes seria facílimo, constatei que se tornara impossível. Pensei em várias soluções, todavia, nenhuma deu certo; se ao menos eu tivesse ou conhecesse alguém que possuísse uma rede daquelas de caçar borboletas. Meu filho, Victor Hugo, deu a ideia de jogar uma toalha sobre o apodiforme, contudo, tive receio de feri-lo. Assim sendo, várias soluções, um tanto quanto idiotas, foram ditas, mas por precaução ou sabedoria, ignoradas.

Algumas horas depois o beija-flor demonstrou cansaço e pousou no móvel da sala, permaneceu em estado letárgico até a hora do almoço. Os meus filhos estavam encantados com o pequenino pássaro e acompanhavam de longe toda essa movimentação. Algum tempo depois reiniciou o voo para a liberdade, e novamente se pôs a debater contra a vidraça da janela. As crianças começaram a gritar em total solidariedade ao prisioneiro. Por fim, certamente pelo cansaço e a falta de néctar, caiu lentamente; o meu filho, com os olhinhos rasos dágua, juntamente com os irmãos, pegou o bichinho carinhosamente e o trouxe na palma da mão até mim.

Fomos para fora da casa e com algumas gotas de água, revigoramos o beija-flor, que assim que sentiu o toque milagroso das gotas se estremeceu e com um pequeno impulso alçou voo em direção ao belo jardim do vizinho, fazendo parada para reabastecimento num lindo roseiral.

Instante depois se espreguiçou, vibrou as asas numa velocidade estonteante e foi embora, recomposto e pronto para a vida.