MAIS UM FINAL DE ANO LETIVO...

Mais um ano letivo está chegando ao fim. E, com ele, a minha crescente tristeza com os rumos que uma boa parcela de nossos alunos está tomando com relação ao futuro que eles estão planejando. Se, por um lado, os avanços em todas as áreas trouxeram benefícios para se aprofundar no conhecimento científico, mudando realidades, aprimorando técnicas e, principalmente, abrindo novos horizontes para as classes menos favorecidas – com os incentivos das Universidades e com a ajuda do Governo Federal, retomando o ensino profissionalizante, por exemplo –, por outro lado, uma camada substancial de jovens que estão cursando os ensinos fundamental e médio – especialmente, os que estão matriculados em escolas públicas e de periferia –, não estão conseguindo aproveitar o tempo que dispõem para se encaminharem na vida e estão se desviando do foco de serem, no futuro, cidadãos* bem instruídos, conscientes, produtivos e participativos.

É claro que isso tem uma explicação ou uma origem: em primeiro lugar, no meu ponto de vista, o problema começa pela desestruturação da instituição familiar. Muitas vezes, a falta de renda gera um problema social e ocasiona o desequilíbrio entre os participantes do núcleo e, com isso, há uma ruptura, provocando um problema maior que é a perda de um dos pilares de sustentação da sociedade.

A instituição de ensino, por outro lado, que é outro sustentáculo desta sociedade, se vê obrigada a absorver, não só o educando, mas também, o filho, já que, com essa desestruturação familiar, uma das referências (pai ou mãe) acaba por ser extinta, deixando-o à mercê de seu próprio universo. A consequência disso tudo é a falta de limites a que esse jovem é exposto, pois não tem nada que o impeça de abusar de sua liberdade e, consequentemente, de seu desejo curioso de sonhar com as possibilidades que o mundo lhe oferece, porém, muitas vezes, de forma inconsequente, para não dizer errada.

E isso é um problema. Sem limites esse jovem não freia seus ímpetos, e vai, aos poucos, incorrendo em pequenos desvios de conduta, de respeito à autoridade que ainda resta no seu núcleo e, com o passar do tempo, ele percebe que é, na verdade, absoluto em suas vontades e quereres.

Infelizmente, eu vi isso acontecer em minha caminhada. Algumas vezes comentei com os colegas, lhes mostrando os rumos diversos que nossos discípulos estavam seguindo e alertando-os sobre o que poderia advir de tudo isso. Disse, mas também, assim como os outros, apenas acompanhei as mudanças que foram surgindo no comportamento deles e que, talvez, por comodismo, eu (nós) não interferi (mos) e, metodologicamente, ou até como um psicólogo leigo – que todo educador é –, não os reencaminhei (amos) para os caminhos da sala de aula, do saber que forma cidadãos íntegros.

Em segundo lugar, e vindo dessa desigualdade social, primeiramente, a ociosidade e, por consequência, depois, a marginalidade. Daí para o próximo passo, um pulo. E é nesse ponto, onde o jovem procura o ter – e não consegue –, que ele se envereda pelos caminhos transgressores a busca dos prazeres imediatos que seus olhos veem.

Por isso, eu vejo, com pesar, as mudanças causadas, nas duas últimas décadas, em nossos jovens. O avanço da tecnologia abriu caminhos para que o conhecimento pedisse permissão e saísse dos muros altos das instituições de ensino e ganhasse cada lar, cada ponto onde tenha instalada uma lan house. É a facilidade de um mundo globalizado. Com isso, o professor perde o status de dono do conhecimento e passa apenas a intermediá-lo. Eu diria que foi uma das melhores coisas que já aconteceram para o conhecimento, por um lado. O acesso à internet, por exemplo, possibilita infinitos meios de interagir com os milhares de lugares destinados ao saber. Por outro lado, a escola não evoluiu na mesma proporção. Ela carece, hoje, de material humano mais capacitado, e/ou, modernamente adaptado às novas tecnologias, onde a reciclagem seja constante em sua profissão e, principalmente, que esse material humano tenha a condição remuneratória de poder adquirir – para poder inovar em suas aulas – essas ferramentas de ponta.

Se no humano ela se vê carente, no físico ela está atrasadíssima. Não oferece nenhum atrativo para prender o jovem dentro do seu ambiente institucional. O que se vê, infelizmente, são prédios sucateados, sem o mínimo de estrutura, com apenas giz branco e quadros negros em péssimo estado de conservação e, o que é pior, sem perspectivas de melhoras. É nesse ponto que entra o pior para esse jovem (que se ausentou da sala de aula): o mundo – que ele ainda não conhece, mas que o fascina, pois se mostra acessível e, que foi, muitas vezes, colorido antes em seus sonhos.

Daí, o terceiro problema: as drogas. O mal maior. A desgraça que está levando nossos jovens a um "paraíso" chamado inferno. E, o que é pior: sem a passagem de volta.

O fato da mudança de comportamento desses jovens, ocasionada por gerações que nascem bem mais depressa que a geração de professores – pelo fato de isso mudar o conceito de respeito e sociabilidade entre educador e educando; os mecanismos criados que, na maioria dos casos apenas dão direitos e não os obrigam a cumprir com os seus deveres; o abismo que é criado na rebeldia natural do adolescente, provocado pelas substâncias nocivas, tudo isso leva ao quarto problema: o desrespeito pela figura do mestre. Ele passa a ser uma figura, meramente, alvo das denúncias de intransigência e autoridade excessiva.

Só quem tem contato com a realidade desses jovens sabe o que é conviver com uma parcela da juventude que, provavelmente, não chegará à vida adulta ou, se chegar, chegará apenas para engrossar as estatísticas de desempregados ou de indigentes – na melhor das hipóteses –, pois, o mais provável mesmo é o aumento no índice de criminalidade e, sem hipocrisia, a superlotação – mais ainda – do sistema penitenciário.

E, por fim, o quinto problema: a disseminação desse mal entre todas as divisões de classes sociais. Imaginar que a droga apenas oferece perigo para quem é menos abastado – para essa parcela da sociedade onde há desequilíbrio familiar – é um erro grave.

Temos como reverter? Sim, temos. Só é preciso um pequeno esforço das autoridades políticas em prol de uma melhor política de prevenção, sabendo contemplar as várias realidades existentes, agindo, conjuntamente, com todos os segmentos da sociedade e sabedores que um cidadão probo se constrói com o esforço coletivo e não apenas com a cabeça pensante de quem olha tudo lá de cima...

* A cidadania é uma possibilidade que se constrói ao longo da vida.
 




 
Obs. Imagem da internet

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 03/01/2010
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T2008780
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