De novo o ano novo

Última hora do segundo dia do ano. Ainda não comi nesse dia, não porque não houvesse comida ou porque não tenha sido oferecida. Apenas não sinto fome.

Chego de viagem e o cansaço é o componente menos empolgante da mistura de sentimentos que sinto. Nesse momento, mesmo com o peso da bagagem, me sinto observado pelo coelho gigante que habita a lua e pelo rosto zangado que se forma numa folha seca no ponto de ônibus. Eles parecem entender o que sinto.

Ao subir a passarela, o som dos carros que passam sob ela soam como uma melodia e as luzes de minha rua parecem formar uma sorriso, como uma constelação de estrelas. O som do pagode na rua, e logo em seguida meninas cantando em um karaokê me avisam que estou próximo de casa.

Ao chegar em frente a porta, o alívio de se estar num lugar conhecido. Num lugar onde a solidão é o que se espera. Num lugar onde posso descansar dos problemas e das pessoas. O capacho na entrada me saúda com um "Bem-vindo", escrito em letras verdes. A vontade de responder com um feliz ano novo é grande.

Abro a porta.

Enfim, em casa.