O interessante Sim Senhor, filme estrelado por Jim Carrey, narra a inusitada trajetória de um sujeito que ia mal na vida. O emprego o deprimia, sua ex-esposa desfrutava de um novo e feliz affair, negava os convites dos amigos até que um dia encontra-se com um amigo que o leva a uma palestra na qual aprende a dizer SIM para tudo e todos em qualquer situação.
A partir daí o filme ganha um maravilhoso ritmo com situações inusitadas e reviravoltas divertidas. No entanto, tentei transportar o que ocorreu para a vida real e, depois de alguns instantes, logo se percebe o pesadelo no qual sua vida se transformará se disser SIM a todos.
Claro que o NÃO utilizado de modo inconsequente poderá trazer resultados igualmente devastadores. A sabedoria reside no equilíbrio e no bom senso, conforme uma reflexão pontual poderá revelar. Logo ontem pude observar como seria minha vida se dissesse SIM a tudo e a todos. Na noitinha de sábado, ressaca feroz de Ano Novo, minha esposa comunicou, durante minha sessão de exercícios, que o gás acabara.
- Use o reserva. – Disse.
- Esqueci de trocar o reserva. – Elas sempre se esquecem.
- Ligue para o depósito de gás.
- Liguei. Está fechado. Liguei para vários. Todos fechados.
- E onde você acha que conseguirei gás sábado à noite? – Claro que pode, e deve, haver alguém trabalhando de plantão, descobri-lo que é o desafio.
- Amanhã cedo será mais fácil trocar. – Declarei, visto não ser urgente, e fui terminar meus exercícios em paz. Caso adotasse a filosofia do SIM, sairia feito um louco em busca de gás até encontrá-lo. Deveria pagar R$ 40 e o vendedor não teria troco para os meus R$ 100.
- O senhor se importa de abrir mão do troco? – Adotando a filosofia, teria que explicar à minha esposa porque o bendito me custara mais que o dobro. Consciente do seu poder – as mulheres são muito atentas a essas questões – atingiria meu ponto fraco:
- Posso comprar o que quiser no Cartão de Crédito?
- S-I-M! – Responderia feliz. Em poucos tempos as finanças da família iriam para a segunda, talvez para a terceira divisão. Meu saldo vermelho desencadearia uma crise familiar e conjugal de funestas consequências. No filme o ator não nega fogo nem mesmo a uma idosa em elevado estado de necessidade afetiva, o que, na vida real, poderia conduzir-nos ao apocalipse, cai bem na ficção. Descobri, então, que há mais coisas entre o SIM e o NÃO do que supõe a nossa vã filosofia...